Tempos novos
Assumo que os últimos dias foram, em conjunto, e como benfiquista, de surpresa imensa e de dor intensa
Escrevo do interior deslumbrante de Portugal. Agora, dizem, e para a tecnologia e semântica dominantes, são territórios de baixa intensidade. Mas que são, em termos de calor humano, de paisagens deslumbrantes e de uma gastronomia singular, espaços de uma altíssima intensidade e que merecem, neste tempo pandémico que atravessamos, uma visita atenta, prolongada e bem cuidada. Escrevo a partir de Cerejais, aqui bem próximo de Alfândega da Fé e , em particular, do Santuário do Imaculado Coração de Maria onde participo a convite, honrado e simpático, do Senhor Padre Manuel Ribeiro num seminário sob o tema: Esperança num mundo que (des)espera. O luto e o processo de luto à luz da Fé. Este seminário leva-nos a termos «uma maior sensibilidade e uma ação concertada para minimizar a dor da separação, ajudar e apoiar o luto». Sim, o luto que este pandemia multiplicou e a luta pela esperança da vida , da redescoberta da vida, desta vida vivida que determina repostas efetivas «aos mais profundos anseios e gritos de atenção e de amor». Sabendo bem que lá fora toca, à hora certa, um sino. E recordo sempre, como na minha mimada infância, seja em Fragosela ou em Silvares, em Valfor(Meda) ou em Viseu, o sino, o seu toque, os seus sons. Não eram Trindades a anunciar o termo do dia. Era, de verdade, ontem como hoje, a Missa de alva a renovar o dia sobre a noite. Sim, o dia sobre a noite. Verdade de todos os tempos.
O Benfica, e também a Benfica SAD, vivem tempos novos. Que são, com a demissão de Luís Filipe Vieira, também novos tempos. Na verdade, em razão de circunstâncias do tão divulgado e difundido inquérito em curso e do ambiente que notícias a ele conexas suscitaram e multiplicaram, Luís Filipe Vieira abandonou a liderança do Benfica e em razão dela, e por consequência, a Administração da SAD. A sua liderança foi pujante em termos de infraestruturas, com a Academia do Seixal a ser a referência de excelência, motivante no que respeita a títulos e a troféus conquistados, estimulante no ecletismo, incluindo no projeto olímpico, reconfortante na área social, com a Fundação Benfica a ser um farol de conforto e de estímulo, e encorajante na empenhada construção, e com evidente êxito, de equipas femininas em múltiplas modalidades e, ainda, revigorante no fomento e atratividade do extraordinário tecido associativo e aqui, com as Casas do Benfica a serem marco de referência . Foram quase vinte anos em que, desde o novo Estádio bem repleto ao atual Estádio totalmente deserto em razão desta pandemia que nos angustia e condiciona, houve múltiplos momentos de prazer e poucos instantes de dor. Que os houve e alguns deles mesmo perto do apito final do árbitro ou em razão de razões tão especiais quanto extraordinárias. Vivemos, sim , largos momentos de clara alegria e outros de uma evidente e sentida tristeza. Mas a vida, a vida vivida, também tem instantes em que a dor de tão profunda quase nos faz esquecer os momentos significantes de crescimento, de comum convicção, de verdadeira fé. Assumo que os últimos dias foram, em conjunto, e como benfiquista, de surpresa imensa e de dor intensa. Assumo, que nos últimos dias, combinei a tristeza profunda com a vontade de acreditar, e viver, em tempos novos. Sabendo que cada um de nós é um ser que não se repete e que temos os nossos erros e também os nossos pecados. Que os temos e os devemos, com transparência, assumir. E estando aqui em Cerejais, em Trás os Montes que cativam e atraem, não posso ignorar que nos momentos de claro pecado, de evidente crise pessoal e de forte desalento comunitário temos de saber que, cada um com o seu próprio Deus ou, também, e nas suas especificidades, com o seu não Deus , mas nós aqui com Jesus, caminhamos das trevas à luz, da dúvida à fé, do engano à verdade. Sim, os tempos novos, que também são, novos tempos, determinam e exigem luz, verdade e Fé! Na vida, na nossa vida, na concreta vida associativa e no sentir comunitário. Luz e verdade, e também Fé, são três palavras que nos devem marcar nos próximos dias. Sabendo da importância do resultado, desejado face às circunstâncias bem positivo, do empréstimo obrigacionista e assumindo que teremos que fazer tudo nesta segunda quinzena de julho para preparamos, em unidade não silenciosa, um agosto que seja, em termos da essência do Benfica, desportivamente estimulante quer no fundamental acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões quer na plena conquista de três pontos nas primeiras jornadas da nossa Liga. E amanhã o Benfica já saberá, com o sorteio da terceira pré-eliminatória, o primeiro adversário que terá de ultrapassar para chegar ao play-off! E até pode acontecer um confronto entre Jorge Jesus e Rui Vitória! Também, aqui, temos que viver tempos novos. Com Fé!
Luís Filipe Vieira renunciou ao cargo de presidente da Direção e da SAD benfiquistas
Permitam, daqui de Cerejais, - vale a pena conhecer estes singulares lugares, este Município de Alfandega da Fé, estes distritos de Bragança e de Vila Real - uma breve referência aos distritos de origem dos vinte e um árbitros que integram o principal escalão da nossa arbitragem e que serão os escolhidos pelo Conselho de Arbitragem para a generalidade dos jogos da nossas competições profissionais, e em particular, da nossa principal Liga. Tal como acontece com os clubes também temos a litoralização da arbitragem . Só as Associações Évora e Santarém destoam, com um árbitro cada uma. Depois o Algarve, Aveiro e Setúbal também, com um árbitro cada uma. Leiria com dois, Braga com três, Lisboa com quatro e a Associação do Porto com sete! São dez árbitros acima do Douro e onze abaixo do Douro. Ou, com outro rio como referência, onze acima de Mondego e dez abaixo.
A partir da próxima sexta-feira vamos viver a alegria , bem contida , dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Com horários distintos mas, decerto, com algumas prolongadas madrugadas para vivermos, na hora, a participação, e o sonho, da nossa empenhada missão olímpica. Acredito que vamos conquistar algumas medalhas. Acredito que, também a partir de Tóquio, viveremos tempos novos! Bons Jogos ! Sorte e Felicidades. E também Fé!