St. Juste e Renato Sanches: parecem iguais, mas não são
Renato Sanches (Imago)

St. Juste e Renato Sanches: parecem iguais, mas não são

OPINIÃO27.07.202401:40

«Não há nada mais comum do que um indivíduo mal sucedido cheio de talento»

Vou repetir-me: de talento desperdiçado está o mundo cheio. Não só no futebol como em todas as áreas. Ou, parafraseando um dos meus autores preferidos: «Não há nada mais comum do que um indivíduo mal sucedido cheio de talento.» A frase de Joe Strummer soa bem melhor em inglês, já agora: «There is nothing more common than unsuccessful men with talent». Entre traduções e jogadores de futebol vão dois nomes: St. Juste e Renato Sanches.

Os dois partilham a infelicidade das lesões. Os americanos dizem que há apenas duas certezas no mundo: a morte e os impostos. Durante algum tempo, dir-se-ia morte impostos e um golo de Ronaldo. Ou de Messi. Nos últimos anos, dir-se-ia «morte, impostos, Max Verstappen, o ManCity campeão e uma lesão de St. Juste/Renato Sanches». Portanto, perante este cenário, que deve o Sporting fazer? Que deve o PSG decidir? Que deve o Benfica pensar? St. Juste e Renato Sanches podem parecer casos iguais, deviam ser casos iguais, mas na realidade não são. O Sporting tem um jogador que passa demasiado tempo inativo e, por aí, pode ter um custo demasiado significativo. St. Juste continua a ter talento - e uma velocidade - que o distinguem, mas a sua irregularidade física preocupa qualquer treinador e diretor-desportivo.

O desporto é muito dado a comparações, tal como escrevi da última vez neste espaço. E a condição de Renato Sanches é semelhante à de St. Juste. A perspetiva a partir de Lisboa sobre ambos é que é diferente. No fundo, quando se olhar para o médio português e o neerlandês, é caso para se afirmar que o Sporting está mais perto do PSG neste assunto. Porém, a proximidade geográfica tem os seus efeitos e o que pode ser entendido como uma decisão racional e lógica de um lado, pode não ser percecionado da mesma maneira do outro. Ainda que, no fundo, sejam a mesma decisão.

Clarificando: pode o Benfica arriscar ter no seu plantel um futebolista que nos últimos anos passou mais tempo na enfermaria do que no relvado? Disse eu há uns parágrafos que St. Juste e Renato Sanches pareciam casos iguais, mas não o são. Simplesmente porque a afetividade não é coisa de somenos. Na vida, muito menos no desporto. Nenhum clube pode deixar cair um dos seus ainda para mais quando não há custos envolvidos. E Renato Sanches é um desses do Benfica. Todas as decisões deviam ser racionais, lógicas, mas se não houver um pingo de emoção de vez em quando, o futebol, e a vida, já agora, não fazem sentido. E é nessa perspetiva que o Benfica devia encarar a chegada de Renato Sanches, um futebolista em dificuldades. Críticos dirão que é caridade. Outros dirão que um clube também deve ter coração. Renato é um desses jogadores que enche o mundo de talento.

Mesmo que a lógica lhes diga que é isso que deviam fazer, aos 26 anos, é demasiado cedo para que até os benfiquistas desistam dele.