OPINIÃO Sporting: Varandas ameaçado

Pode ser que não estejamos todos a ver bem as coisas. Rúben vai para o Man. United. Vai para o Man. United. Isso deveria ser suficiente para ser compreendido

Rúben Amorim será, cedo ou tarde, treinador do Man. United, salvo algum golpe de teatro que alguns ainda podem esperar mas no qual quase todos deixaram de acreditar. Frederico Varandas está a jogar todos os trunfos que ainda tem num jogo que sabe que já perdeu. Resta-lhe perder por poucos e isso, para todos os efeitos, não é pouco para o Sporting, para os adeptos e para ele.

O tempo dos anúncios oficiais demorará sempre a passar para quem quer, legitimamente, que tudo se resolva o mais rapidamente possível. E, para Rúben Amorim, Sporting e Man. United, quanto mais depressa tudo fique clarinho como água melhor, isto é, quanto mais depressa Rúben chegue ao Teatro dos Sonhos melhor.

Aqui e noutros espaços sempre elogiei a capacidade de comunicação de Rúben Amorim. E, no entanto, talvez pela confiança nele próprio (aqui posso estar a atirar-me para fora de pé), a forma e conteúdo do que disse, na conferência de Imprensa depois do jogo com o Nacional, mesmo considerando a desvantagem de não poder dizer tudo e, sobretudo, o essencial, foram pouco melhores do que maus. Poderia reservar-se, nalguns casos, ao silêncio, como muitos réus em tribunal, para pelo menos evitar autocriminar-se.

Rúben Amorim assinou os papéis de divórcio com o plantel ao considerar que faz parte da vida lidar com a saída de um treinador que terá convencido alguns a ficar quando convites os seduziriam, remetendo para a cruel realidade das cláusulas, como se isso fosse suficiente.

Cada dia que passar será um dia de casamento forçado. Poderia, ainda, ter defendido melhor os interesses do Sporting, nesta situação fragilizado. E foi deselegante quando pediu a um jornalista, que lhe perguntou se já tinha falado com o Man. United e cuja resposta os sportinguistas gostariam de saber, para não se preocupar com coisas que não lhe diziam respeito.

Rúben Amorim tem toda a legitimidade de querer mudar-se para o Man. United. É, aliás, o que me parece mais óbvio, racional e emocionalmente. Não serão estes episódios da saída de Alvalade que apagarão o legado dele. É, como nós, imperfeito e isso nada tem de mal. Pode ser que não estejamos, também, todos a ver bem o que se está a passar. Vai para o Man. United. Vai para o Man. United. Isso deveria ser suficiente para ser compreendido.

A saída de Rúben Amorim é, provavelmente, o maior desafio de Frederico Varandas. Não que o presidente do Sporting tenha ultrapassado poucos. E grandes. Recuperou financeira e desportivamente o clube e, não menos importante, a reputação institucional.

Era fácil, há uns anos, augurar o pior e, apesar disso, aí está o Sporting como exemplo. Esse lastro e crédito de Frederico Varandas de pouco lhe servirão agora. Na presidência dele haverá um antes e um depois de Rúben Amorim. Porque, não obstante o Sporting estar hoje mais sólido, estruturado, consolidado e com método, qualquer clube, em Portugal ou no estrangeiro, depende do treinador. Pep Guardiola é o melhor exemplo. Elevou o Man. City como nunca. Jurgen Klopp reergueu o Liverpool. É fácil encontrar mais exemplos.

Daí que, na escolha e sucesso do sucessor, dependerá o futuro do Sporting. É impossível ignorar que as fundações do que Varandas construiu estão ameaçadas.