Opinião Sporting: uma chicotada psicológica ao contrário
As famosas 'chicotadas psicológicas' também funcionam em sentido inverso. Saída de Amorim, mais coincidência menos coincidência, deu até agora péssimos resultados
João Pereira destacou-se como futebolista internacional atuando a defesa direito, e por isso efetuou centenas (milhares?) de lançamentos de linha lateral. Não consta, pelo menos nas memórias imediatas, que alguma vez tenha oferecido um golo ao adversário da forma como Geny Catamo o fez nesta quinta-feira em Moreira de Cónegos.
Geny Catamo é um jovem altamente promissor que já resolveu dérbis importantíssimos para o Sporting, marcou em clássicos, conquistou merecidamente o carinho dos adeptos leoninos e tem ganho o seu espaço na seleção de Moçambique.
Nem João Pereira nem Catamo saberão explicar o que está a acontecer ao Sporting desde a saída de Ruben Amorim. E certamente nenhum deles, como os outros jogadores e restantes elementos da estrutura, gostaria de estar a viver uma fase assim.
A verdade é que o Sporting não perdia três jogos consecutivos há cinco anos e acaba de colocar à disposição dos rivais a Liga 2024/2025, quando há um mês era quase unânime a ideia de que só uma hecatombe impediria o bicampeonato leonino.
Pois a hecatombe aconteceu. Veio fora dos planos e em tempo desadequado, isto visto pela perspetiva do Sporting, claro. Mas, se pensarmos bem, podemos estar perante a história circular dos incêndios do verão e das cheias no inverno: todos sabem que vão acontecer, mas pouco se faz para prevenir os respetivos danos.
Frederico Varandas está, neste momento, na maior prova de fogo da presidência. Garantiu que João Pereira era a solução pensada para o futuro a partir da próxima época, quando Amorim ia finalmente voar. Voou antes do tempo e fica uma espécie de orfandade em todo o universo do futebol do Sporting.
Frederico Varandas não efetua lançamentos de linha lateral, não defende bolas nem chuta à baliza. João Pereira já o fez, mas agora só se for nos treinos.
Cabe também aos jogadores, nesta fase difícil, responder presente. E o que se viu nos últimos jogos é que uns estão e outros nem por isso.
Pode haver inúmeras eventuais razões do foro psicológico para esta quebra, mas se a maior parte delas for motivada por um compromisso com o anterior treinador e não exatamente com o clube, então algo está mal no reino do leão.
É muito cedo para tirar conclusões, mas se o Sporting pujante dos últimos anos, capaz de se recolocar no topo, era afinal um projeto de Amorim e Hugo Viana, isso é preocupante.