Rui Borges, treinador do Sporting (IMAGO)

Sporting tem tantas lesões como Jorge Costa tem troféus

Iván Marcano regressou: palmas para ele e para a sua capacidade de se regenerar. Rui Borges tem de pegar numa pinça para escolher os disponíveis para defrontar o Estoril

O FC Porto sagrou-se campeão europeu pela primeira vez a 27 de maio de 1987. Iván Marcano Sierra nasceu 27 dias depois, a 23 de junho de 1987. Não podemos dizer, quase 38 anos depois, que o defesa espanhol seja a maior referência do atual futebol dos dragões.

Esse trono pertencerá talvez a Diogo Costa, seguido por Samu, Fábio Vieira e Rodrigo Mora. Porém, embora a outro nível, Marcano é uma das maiores referências azuis-e-brancas da última década. A capacidade de sofrimento demonstrada para recuperar de tantas gravíssimas lesões coloca-o, com a devida vénia, ao lado de Jorge Costa. Outra das grandes (das maiores) figuras do universo portista e que, também ele, sofreu lesões tremendas e, sempre sem verter uma lágrima, superou-as todas: uma a uma.

Iván Marcano não tem o peso desportivo de atual dirigente do FC Porto (oito Ligas, cinco Taças de Portugal, sete Supertaças Cândido de Oliveira, uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões e uma Taça Intercontinental!), mas tem o mesmo peso na capacidade de se levantar sempre que cai. E tantas vezes Marcano já caiu. E tantas vezes se levantou. «Quando um leão cai, outro se levanta», disse António Oliveira quando representava o Sporting. Podia agora dizer: «Quando Iván cai, Marcano se levanta».

É em Iván Marcano Sierra que todos os lesionados gravemente devem colocar os olhos. De Daniel Bragança a Vasco Sousa, de Manu Silva a Nuno Santos, de Alexander Bah a Pedro Gonçalves, de João Simões a Grujic. Os dois primeiros leões nem sequer necessitariam de olhar para o dragão Marcano. Bastaria olharem-se ao espelho para relembrarem o que já sofreram noutras lesões e o que ainda terão de sofrer para recuperarem destas.

Nenhum deles, como Marcano, deitou ou deitará a toalha ao chão, como fazem os pugilistas (ou alguém por eles) quando percebem que não têm condições para prosseguir com dor. É assim em todas as profissões, meus caros. Que ninguém deite a toalha ao chão, como também não deitou Charlot nos Tempos Modernos de 1936, em que passava o tempo a apertar porcas e porcas e porcas e porcas, até quase se transformar, ele próprio, numa porca.

Regressemos a Marcano e, com ele, aos defesas centrais e ao Sporting de Rui Borges. A máquina estava afinada a 10 de novembro. Depois desafinou. E depois emperrou: Diomande, Nuno Santos, Pedro Gonçalves, St. Juste, Marcus Edwards, Matheus Reis, Morita, Gyokeres, Catamo, Daniel Bragança, Gonçalo Inácio, Hjulmand, Eduardo Quaresma, João Simões e Alexandre Brito lesionaram-se (quase tantos lesionados como os troféus de Jorge Costa!). A maioria com gravidade. A frase de António Oliveira teria de ser refeita quatro décadas após ter sido proferida: «Quando tanto leão cai, já quase não há outro para se levantar». Talvez Trincão, Quenda e Debast.