Sporting: os critérios de Frederico Varandas
Rui Borges é a mais recente aposta de Frederico Varandas para o comando técnico do Sporting (Foto: Miguel Nunes)

Sporting: os critérios de Frederico Varandas

OPINIÃO29.12.202409:00

'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís, antigo jogador e economista

O futebol é imprevisível. A euforia e a depressão andam de mãos dadas. Nos últimos quatro anos e meio Ruben Amorim conseguiu gerir as expectativas no reino do leão, através de uma comunicação externa e interna fora do normal. Fez o seu trabalho e o do departamento de comunicação do Sporting. Falou por ele e por Frederico Varandas. A sua saída expôs o Sporting em várias áreas.

A saída de João Pereira

Ao fim de 44 dias toda a convicção que levou João Pereira a ser treinador da equipa principal do Sporting desapareceu. Por norma, as boas decisões devem estar suportadas em critérios que possam justificar as opções que são tomadas. Referi por norma porque há exceções. Ruben Amorim é o exemplo de que uma contratação sem critérios previamente identificados, e por valores incríveis, pode converter-se num sucesso. Contudo, será importante que quem lidera tenha a perceção de que exemplos como o de Ruben Amorim são escassos. Frederico Varandas e a sua administração não entenderam assim e entregaram os destinos do futebol ao jovem treinador João Pereira.

Não coloco em causa a sua qualidade como treinador. Coloco em causa a decisão de Frederico Varandas por esta não ter por base nenhum critério lógico. O tempo veio dar-me razão. O presidente do Sporting demitiu João Pereira um mês e meio depois da apresentação e de ter posto nos píncaros as expectativas em torno da sua capacidade. A justificação apresentada foi similar aos critérios que levaram à sua promoção, ou seja, nenhuns! Assim, Frederico Varandas justificou que o problema no reinado de João Pereira foi que o jovem treinador leonino não pôde ser igual a si próprio.

Referiu ainda que Rui Borges já vai poder ser Rui Borges porque «assim lhe é permitido»! Se o Sporting é gerido de dentro para fora, quem é que não permitiu que João Pereira fosse João Pereira? Quem impediu João Pereira de ser igual a si mesmo? Ou será que a culpa não é de João Pereira, mas sim de alguém que apostou num treinador que não estava devidamente preparado?

Foi ainda interessante a perceção que Frederico Varandas teve do momento em que apostou em João Pereira. Segundo o presidente leonino, todos tinham conhecimento que, naquela altura, o contexto do Sporting era complicado e desafiante. Não deixa de ser uma análise interessante tendo em conta o enquadramento que Ruben Amorim deixou: 11 vitórias em 11 jogos; 39 golos marcados e cinco sofridos na Liga. Na Liga dos Campeões três vitórias e um empate. A confiança e o bom futebol eram a nota dominante. Na minha opinião, complicado e desafiante é o desafio que Vítor Pereira tem pela frente no Wolverhampton e ao qual está a responder muito bem.

Oportunidade de Rui Borges

Depois do afastamento de João Pereira a escolha do Sporting foi Rui Borges. A justificação apresentada por Frederico Varandas é que se trata de um treinador que subiu a pulso, que tem uma ideia de jogo bem definida e que tem um bom relacionamento com os jogadores. Ora, todos estes critérios apresentados não encaixam na escolha de João Pereira (pela pouca experiência adquirida), o que nos leva a questionar se os critérios para a sucessão de Ruben Amorim foram alterados ou se alguma vez a escolha de João Pereira ou Rui Borges teve por base uma análise de diferentes variáveis.

Analisando a conferência de imprensa de Rui Borges percebemos algumas diferenças. O treinador transmontano está à vontade perante a comunicação social. Esteve sempre tranquilo e tem a capacidade de ver as coisas pelo copo meio cheio e não pelo meio vazio. Não deixa de ser incrível que, ao fim de 44 dias, foi o recém-contratado Rui Borges a transmitir uma mensagem positiva. Desdramatizou o grau de dificuldade dos próximos jogos, embora saiba da sua complexidade. Referiu que são estes jogos que todos gostam e querem jogar. Chutou para longe a questão do presente envenenado ao referir que o Sporting está em todas as frentes, deixando no ar que apenas depende de si para as alcançar.

A primeira impressão foi positiva. Vem de um clube (Vitória Sport Clube) que tem adeptos muito exigentes. Jogou de três em três dias com resultados positivos. A sua carreira vem em crescendo. No Sporting tudo será mais fácil, pela capacidade e qualidade dos jogadores, e mais complicado, porque num clube grande a pressão, as expectativas e a exigência são maiores. Por fim, vai ser a pessoa que mais vezes vai representar o clube publicamente, pelo que esta é mais uma competência que tem de saber gerir com mestria, de forma a poder tirar proveito interna e externamente das mensagens que quiser passar.

Um jogo especial

Hoje joga-se um dos grandes jogos do futebol português. As duas equipas estão separadas por um ponto. Do lado do Sporting, Rui Borges tem a oportunidade de causar uma primeira boa impressão, sem ter tempo para poder trabalhar. Uma vitória eleva a confiança e a crença do universo sportinguista. Já uma derrota ou uma má exibição fará com que a confiança dos jogadores não melhore, num momento fundamental da época.

Do lado do Benfica a expectativa dos adeptos encarnados está em alta. Olham para o rival e percebem que o momento é de instabilidade. Percebem que o Sporting tem sido uma equipa que desconfia de si mesma. Se é verdade que o Benfica tem vencido, muitas vezes sem convencer, hoje é um dia importante para Bruno Lage. Uma vitória vai permitir deixar um rival mais desconfortável e intranquilo. Já uma derrota fará com que muitos adeptos fiquem inseguros relativamente à capacidade do treinador encarnado.

Joga-se muita coisa neste dérbi que é um jogo com uma carga emocional muito elevada. Tanto Rui Borges como Bruno Lage têm muito a ganhar e muito a perder... com Vítor Bruno, tranquilo, a ver tudo de fora.

A valorizar: Vítor Pereira

Entrada em grande do treinador português na Premier League. Recuperou a moral e confiança no Wolverhampton, num campeonato onde Nuno Espírito Santo está em quarto lugar e Marco Silva fez com que o seu Fulham conseguisse uma vitória no terreno do Chelsea 45 anos depois.

A desvalorizar: Ruben Amorim

A vida não está fácil para o técnico português do Manchester United. Sem vitórias ficará mais difícil promover as mudanças que pretende implementar.