OPINIÃO Sporting, FC Porto ou Benfica? Quem tem mais fome?
Leão recupera da congestão; Dragão em dieta pode ser campeão; Águia em estranho jejum intermitente... Eu sou o Jorge Pessoa e Silva e vivo em eterna fome de palavras. Esta é a crónica semanal do meu Livro do Desassossego...
A cena faz parte do vídeo de promoção de uma nova série da Netflix sobre o campeonato na Arábia Saudita. Cristiano Ronaldo sentado numa cadeira junto ao relvado a assistir a um treino do filho Cristianinho até parece uma pessoa absolutamente normal e não o mais mediático ser humano que alguma vez habitou este planeta. A seu lado, Ricardo Regufe, com quem vai mantendo uma conversa trivial de pai.
«Este é mais calminho, ao contrário dos irmãos, que dão muito mais trabalho», comenta enquanto aprecia mais uma habilidade do filho. «É mais forte do que eu quando tinha a idade dele. Acho que vai ser mais alto», vaticina CR7. Ricardo Regufe atira: «Veremos se terá a mesma fome…». Cristiano Ronaldo retorquiu: «A fome é o mais difícil…»
Ronaldo sabe do que fala… É a fome que marca a diferença e que dita a dimensão do sucesso. A fome que nos mantém em permanente desconforto que abraçamos em busca de novas cadeiras de sonho a cada meta alcançada. A cada recorde batido. A fome.
A fome que o Sporting mostrava com Ruben Amorim, insaciável nas vitórias, nos golos, nos recordes que queria bater. E que se transformou, num ápice, em congestão com a saída do treinador. Um jejum penoso. O Sporting que elegeu um outro chefe que cozinhava pelo mesmo livro de receitas, mas nunca é a mesma coisa. Amorim é aquela avó que cozinha como ninguém por muitos que todos sigam a mesma receita. Até Rui Borges aparecer como água do Fastio que faz reabrir o apetite.
O FC Porto entrou na época com a forme tradicional, mas um regime alimentar de dieta a aconselhar paciência e um trabalho rendilhado de gourmet. E se houve fases em que parecia mais pisco e enjoado com a comida, o certo é que, grama a grama, caloria a caloria, pode ser considerado o campeão da 1.ª volta se vencer o jogo suspenso com o Nacional.
Já o Benfica, é um caso atípico de jejum intermitente e fora de horas. Mostrou essa fome com a chegada de Lage, que teve o mérito de escolher os ingredientes mais certos para os pratos mais corretos. E os jogadores revelaram ter essa fome numa altura em que o Sporting ainda de Amorim dava sinais de que seria uma época de passeio, inquebrável, plena de maturidade. O objetivo era apenas o de uma tentativa de aproximação aos leões até final do ano. O leão quebrou com aparato, a liderança acaba por cair no colo do Benfica mas… e equipa tornou-se esquisita. Em vez de agradecer e aproveitar para se afirmar como novo principal candidato ao título, a águia entrou em jejum intermitente, que aqui também levou a perda de peso e de argumentos para a liderança… Muito estranho este medo de ser feliz. Este fastio súbito quando se esperava uma voracidade renovada. Com Lage a parecer cada vez mais Roger Schmidt, até na capacidade de irritar os adeptos. Cometendo o mesmo duplo erro do alemão: fingir que não ouviu os assobios; e explicar um jogo que os adeptos não viram… E poucas coisas irritam mais os adeptos.
E eis que de repente, de novo um apetite voraz, no jogo com o SC Braga da Taça da Liga, provando que depressa e bem também há quem. E na final, com o mesmo Sporting com quem perdeu em Alvalade? De novo a fome ou o jejum intermitente?
Voltemos ao início: nunca conheci um ser humano com tanta fome quanto Cristiano Ronaldo. Em qualquer área de atividade. Sei que igual a Diego Armando Maradona nunca mais verei jogar. Mas como modelo de vida, de dedicação e de excelência, Cristiano Ronaldo será sempre o número 1. O maior jogador da história do futebol. Porque é um eterno…. esfaimado.