Sporting: a traição de Rúben Amorim

OPINIÃO01.11.202411:35

É normal, porque humano, Rúben Amorim agarrar a oportunidade que passa, como passou há quase cinco anos. Os adeptos têm de compreender, os dirigentes também. Os que me parecem poder ficar com sentimento de traição, pelo menos de desapontamento, são os jogadores. Este é o 'Nunca Mais é Sábado', espaço de opinião de Nuno Raposo

Mais logo em Alvalade, quando, minutos antes do jogo com o Estrela da Amadora começar, Rúben Amorim caminhar em direção do banco de suplentes acredito que estará tão ou mais nervoso do que estava na conferência de imprensa de ontem ao início da tarde. Se no jogo com o Nacional, o primeiro depois do terramoto pela anunciada saída do treinador para o Manchester United, o ambiente foi frio, muito também se deveu ao boicote das claques; agora para o campeonato, as bancadas de Alvalade vão ecoar o sentimento dos leões.

Acredito que estarão divididos entre os que se sentem traídos e os agradecidos ao muito que o técnico de 39 anos ofereceu – dois títulos de campeão nacional, duas Taças da Liga e uma Supertaça, mas também muito que não se quantifica: qualidade de jogo, ambição, estabilidade…Não acredito, ou não quero acreditar, que os assobios sejam mais do que os aplausos. Mas posso compreender uns e outros. Porque as relações de amor são assim mesmo.

Compreendo uns e outros porque compreendo que alguns se sintam traídos, como compreendo que seria sempre muito difícil Rúben Amorim dizer não ao Manchester United — como lhe seria difícil, por razões similares, ou pelo menos próximas, dizer não ao Sporting em 2020, com o sentimento arsenalista a ser igual, ou muito parecido, ao atual sentimento sportinguista...

O Manchester United chega a Alvalade em outubro/novembro de 2024 e paga os 10 milhões da cláusula. O Sporting chegou à pedreira em março de 2020 e pagou a cláusula de 10 milhões de euros. Assim tal e qual.

É normal, porque humano, Rúben Amorim agarrar a oportunidade que passa, como passou há quase cinco anos. Os adeptos têm de compreender, os dirigentes também. Não há aqui traições. Os que me parecem poder ficar com esse sentimento, pelo menos de desapontamento, são os jogadores.

Sobretudo porque depois de um ano de novo título nacional e de afirmação de uma força coletiva e individual, muitos leões passaram a ser ainda mais cobiçados. Podiam ter saído, bastava forçar um pouco. Não o fizeram porque confiaram no projeto de Amorim, a quem a administração sempre recorreu quando quis contratar ou manter alguém.

Ficaram, vieram… Para eles, os jogadores, ver o treinador partir em novembro poderá ser sentido como uma facada. Rúben Amorim lembrou que não houve qualquer clube a bater as cláusulas dos jogadores. Só o disse certamente por causa dos nervos, porque não se pode comparar cláusulas de 60, 80 e 100 milhões com uma de 10.

O futuro do Sporting começa novamente a jogar-se, como se jogou em março de 2020. Frederico Varandas acertou em cheio, ganhou novas eleições e acredito que se prepara para ganhar outras em 2026. Pode no entanto esta mudança significar um risco para o presidente? Acho que não: pelo que cresceu como dirigente, pelo que aprendeu, pela forma como deixou o clube mais bem preparado. A forma como tem defendido os interesse do clube neste processo Amorim/Manchester mostram bem que o Sporting está bem entregue. Mesmo sem Amorim.