OPINIÃO Sporting: a coragem de Rui Borges
Rui Borges tem o pior calendário do mundo: dois dérbis e um clássico nos quatro primeiros jogos. O mais fácil era 'só' uma visita ao terreno do Vitória de Guimarães… E o FC Porto que se perde na neblina quando o obstáculo é do seu tamanho. Este é o 'Nunca mais é sábado', espaço de opinião de Nuno Raposo
1 Rui Borges tem de ser um homem de coragem. Não é só assumir o comando da equipa técnica do Sporting pós-Ruben Amorim e pós-João Pereira, é assumir um Sporting deprimido e entrar em campo com dois dérbis, um clássico e uma visita ao terreno do Vitória de Guimarães nos quatro primeiros jogos. Teve, e tem, o pior calendário do mundo — e até final deste mês tem ainda dois decisivos jogos de Champions, com RB Leipzig (fora) e Bolonha (casa), além dos dois encontros do campeonato, Rio Ave (fora) e Nacional (casa).
Já ganhou um dérbi — 1-0 no campeonato, estreia absoluta pelo leão —, já ganhou um clássico — 1-0 ao FC Porto nas meias-finais da Taça da Liga —, porém empatou no D. Afonso Henriques — 4-4 no campeonato. Ganhar outra vez ao Benfica seria um tónico que devolveria uma confiança ao Sporting que no início da temporada, até ao treinador desertar, parecia inabalável. Nova vitória com o Benfica, ainda para mais com as dificuldades das lesões (agora mais uma, Morita, a juntar às de Nuno Santos, Matheus Reis, Daniel Bragança e Pedro Gonçalves) daria a Rui Borges um crédito ao nível da coragem que mostrou ao aceitar o desafio. E justifica ainda mais junto da administração que deve dar-lhe condições para atacar a segunda metade da temporada com esperança redobrada — a possibilidade de bicampeonato, inédito em 70 anos e prometido por Ruben Amorim, é suficiente para ter essa(s) prenda(s).
2 Uma série de quatro vitórias consecutivas, aproveitando a queda a pique do Sporting pós-Ruben Amorim (ainda se tenta encontrar da era medíocre de João Pereira) bem como a pior fase do Benfica de Bruno Lage, abriu as portas da liderança do campeonato ao FC Porto — uma vitória com o Nacional no domingo desvendará o 1.º lugar da Liga aos dragões na bruma do Estádio da Madeira.
Mas será o nevoeiro exclusivo à Choupana? Será que a euforia que se apoderava dos dragões não está ela mesmo também envolta em neblina? A Taça da Liga pode lembrar que sim. Porque recolocou em evidência que este FC Porto tem tido muitas dificuldades em ombrear com os meninos do seu tamanho… E isso é motivo de preocupação, mesmo que vitória na Madeira devolva a alegria aos portistas, interrompida com a realidade que o jogo com o Sporting mostrou — mesmo um Sporting ainda à procura da si mesmo.
São seis as derrotas azuis e brancas esta temporada: Sporting (0-2 na Liga); Bodo/Glimt (2-3 na Liga Europa); Lazio (1-2 na Liga Europa); Benfica (1-4 na Liga); Moreirense (1-2 na Taça de Portugal); Sporting (0-1 na Taça da Liga). Significa isto que, tirando a Supertaça, em que os leões deitaram fora vantagem de 3-0 aos 24 minutos, os dragões de Vítor Bruno não conseguem passar o obstáculo quando o obstáculo ou a competição é, pelo menos, do seu tamanho. Duas derrotas com o Sporting, uma goleada sofrida com o Benfica, derrotas (e empate com um dos piores Manchester United da história e também com o Anderlecht) nos encontros mais complicados na Europa… Este FC Porto até pode entrar na próxima jornada na liderança, mas continuará a ser colocada a hipótese de os dragões conseguirem lançar chamas sobre os meninos mais pequeninos mas acabarem queimados quando o menino é mais graúdo. E como aconteceu no Municipal de Leiria, o rescaldo acaba por deixar a nação portista com pouco… gás para acreditar.