Só Roger Schmidt falhou ligeiramente no desportivismo da Taça
Roger Schimidt e Rúben Amorim após o final do jogo da 2.ª mão da Taça de Portugal FOTO João Bravo SPP/IMAGO
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OPINIÃO Só Roger Schmidt falhou ligeiramente no desportivismo da Taça

OPINIÃO03.04.202410:00

Assistimos a uma vibrante meia-final da Taça, e ainda por cima com desportivismo. Pena o deslize do treinador do Benfica

Confesso que Roger Schmidt estragou um pouco esta narrativa, ao tentar deitar para cima da arbitragem a eliminação do Benfica nas melhores meias-finais da Taça de que temos memória ativa nos últimos anos. Fê-lo, porém, com alguma discrição e sem esconder que estiveram duas grandes equipas em campo nestes dois jogos.

Uma ganhou, outra perdeu. Já no sábado há novo round e essa é a melhor notícia de todas. «O próximo jogo é sempre o mais importante» é uma máxima do futebol, quase lugar comum, mas desta vez não podia ser mais apropriada.

E por que estragou ligeiramente Roger Schmidt a narrativa? Porque até ir ter com o árbitro no final do jogo (vendo cartão amarelo) e à conferência de imprensa do treinador do Benfica tudo correu como deve sempre correr no futebol.

Não houve registos de distúrbios entre adeptos, o que infelizmente ainda é de louvar, em vez de ser normal.

Pouco mais de uma hora antes do jogo, João Neves e Eduardo Quaresma, adversários de clube e colegas de Seleção, confraternizaram calmamente no relvado da Luz. Conversaram como duas pessoas civilizadas que são, não mais que isso. Mas no futebol que temos não é assim tão comum.

A reportagem da RTP no final da partida não teve oportunidade de mostrar imagens, mas o perspicaz jornalista João Miguel Nunes descreveu na perfeição que os mesmos dois protagonistas estiveram de novo à conversa à boca do túnel, a trocar larachas e fotos dos smartphones. Afinal é possível.

Como é possível ter um árbitro a deixar jogar sem abusar. Sem abusar do apito e dos cartões.

Como é possível ter jogadores leais na luta pela suas cores sem passarem as fronteiras do desportivismo. Houve, na Luz, mais de um exemplo de colegas de profissão capazes de ajudar o adversário a levantar-se depois de um lance disputado até ao limite.

Haverá muita gente inclinada, agora, a discutir 180 minutos de uma eliminatória concentrando-se num lance duvidoso na área do Sporting no jogo de ontem. Ou na área do Benfica no jogo de há um mês.

Os jogadores que falaram logo após a partida, por exemplo, não o fizeram.

Uns achavam-se merecedores de melhor sorte, outros glorificaram a sorte e o mérito que tiveram numa luta a dois tempos.

Os adeptos aplaudiram os seus como todos mereciam. Quem venceu merece os aplausos, mas quem perdeu lutando até ao fim também.

Pierre de Coubertin era infelizmente fascista, mas legou bonitos ideais de desporto, que correspondem a quase tudo o que se passou ontem na Luz.

Este texto parece escrito por uma criança de 10 anos numa aula de Português? Talvez.

Mas talvez o futebol também possa ser, ainda, um espaço de lisura e desportivismo, aproveitando a parte boa de Coubertin.

Que no sábado continuemos a achar que é possível.