Só pode ser a genética
Martim Costa foi eleito o MVP na estreia de Portugal no Mundial de andebol (EPA)

Só pode ser a genética

OPINIÃO19:34

A herança Mota & Costa; suspensão por doping de Miguel Martins na estreia de Portugal no Mundial

Lembro-me de ir buscar Ricardo Costa ao aeroporto quando chegou do Campeonato do Mundo de andebol, que o exótico Japão recebeu em 1997. O agora treinador do Sporting tinha 20 anos, mais ou menos o mesmo que o filho mais novo, Kiko, seu jogador nos leões, mas nem sequer era para ter sido convocado. Foi um teimoso Aleksander Donner que surpreendeu tudo e todos quando decidiu levar para a estreia portuguesa naqueles palcos, dois miúdos — Ricardo Andorinho era o outro.

E os putos foram dos mais elogiados. Tal como, provavelmente, vai agora acontecer com os seus dois filhos. Sim, porque, além de Kiko, há Martim, de 22 anos, nesta Seleção Nacional que ontem se estreou com um triunfo natural frente aos Estados Unidos da América, naquela que é a sétima presença portuguesa em Mundiais. E Martim, que dificilmente ficará por cá muito mais tempo, foi eleito o MVP do jogo.

Ambos parecem ter a garra do pai enquanto jogador — talvez menos efervescentes — mas esta genética não a herdaram só do lado paterno. Lembro-me, sem conseguir precisar o ano e o local, de um passeio de fim de tarde numa pequena cidade encravada no Bloco de Leste com algumas jogadoras da Seleção feminina e, entre estas, Cândida Mota, a lateral-esquerda do grupo. Comprámos coisas para a cozinha da casa que ia em breve partilhar com Ricardo Costa. A genética é tramada e não engana. Mas não chega. Não há talento no Mundo que resista à falta de trabalho e se, hoje, Kiko e Martim são dois dos maiores valores da Seleção Nacional, além destes genes escolhidos a dedo, seguramente, juntaram-lhes muito trabalho.

Uma fórmula simples para o sucesso — talento, trabalho e, claro, sorte que também dá jeito — que ao Sporting tão bem tem sabido e que a Seleção pode igualmente aproveitar.

Portugal entrou a vencer, como seria desejado e, diga-se, esperado, mas esta vitória está irremediavelmente marcada ao caso que abalou o grupo: o afastamento do central Miguel Martins, suspenso por doping. «Chocado» mostrou-se o atleta e o clube que representa. Chocada, confesso, também fiquei. Conheço o Miguel desde que, aos 17 anos, encantou o andebol português e começou a jogar no FC Porto. A forma como brincava com a bola, como marcava dava prazer. Acredito genuinamente que todos são inocentes, até prova em contrário.

E é nisso que continuarei a acreditar.