OPINIÃO Sistema tácito: ‘buona fortuna, amico'
Paulo Fonseca subiu na carreira a pulso e sem atropelar ninguém; falhou no Dragão, mas reergueu-se até chegar a um colosso italiano
Paulo Fonseca acaba de chegar ao patamar mais alto da sua carreira, ao ingressar no poderoso AC Milan, depois de provas dadas no Paços de Ferreira, SC Braga, Shakhtar Donetsk, onde conquistou três Ligas ucranianas, três Taças da Ucrânia e uma Supertaça, e também nos franceses do Lille. Mas foi ao serviço dos castores que começou a dar nas vistas, conseguindo um notável terceiro lugar que lhe valeu uma participação inédita ao simpático clube da Mata Real no play-off de acesso à Champions League.
Esse feito notável garantiu-lhe a promoção a treinador principal do FC Porto em 2013/2014, mas, apesar de ter começado bem com um triunfo na Supertaça Cândido de Oliveira diante do V. Guimarães, acabou por não singrar de dragão ao peito por alguma inexperiência, como o próprio reconheceu publicamente, mas também por culpa de uma política de contratações da SAD azul e branca que não foi a melhor naquela temporada. Falhou no Dragão, mas, como é sua imagem de marca, teve a humildade e resiliência de voltar à Capital do Móvel, dando um passo atrás na carreira.
Fruto da sua competência, seguiu depois para Braga, onde venceu uma Taça de Portugal diante do... FC Porto. Seguiu-se, depois, uma aventura de sucesso na Ucrânia, manchada apenas por uma guerra, que o obrigou a escapar com a sua família da invasão bárbara das forças do ditador Vladimir Putin. Encerrado o capítulo no emblema de Leste, ao qual deve enorme gratidão e com tem laços familiares, mudou-se de armas e bagagens para Roma, onde permaneceu durante duas épocas, realizando um trabalho de excelência, mas sempre aquém do desejado pelos seus proprietários do clube da capital italiana.
Em Lille também deu nas vistas, sempre com um futebol positivo e cativante para os adeptos. Decidiu que seria o momento de deixar a Liga francesa, não resistindo à tentação de voltar a treinar um (novo) clube campeão da Europa por sete vezes. É pela porta grande que chega ao AC Milan, cheio de ambição daquele que, porventura, será o maior desafio da sua carreira. Em Itália, ainda assim, orientará o plantel mais valioso da carreira, mas seguramente voltará a ser feliz porque o merece e tem competência suficiente para isso. Paulo Fonseca não tem o mediatismo de José Mourinho, Jorge Jesus, Abel Ferreira, entre outros. Mas é um treinador de grande craveira, que tem elevado bem alto o nome de Portugal. Pela lição de vida que tem dado como um profissional exemplar, nunca entrando em polémicas e subindo degrau a degrau até chegar ao topo, só lhe posso desejar boa sorte, amigo Paulo.