Simone Biles: soltem a 'GOAT'!
Simone Biles
Foto: IMAGO

Simone Biles: soltem a 'GOAT'!

OPINIÃO28.07.202407:15

No Rio de Janeiro mostrou que é a melhor ginasta de sempre, em Tóquio foi ainda mais forte ao saber retirar-se. E agora, em Paris, o que podemos esperar?

Quando arrancam uns Jogos Olímpicos, todos nos tornamos um pouco especialistas em atletismo, viciados em natação e até - se tivermos tempo - curiosos num tiro com arco. É tudo muito simples nesta altura: deem-nos um trampolim e uns saltos para a água e seremos felizes nos próximos dias!

Paris 2024 vai ser, ainda por cima, o regresso de Simone Biles. A menina do Rio, onde conquistou quatro ouros e um bronze em 2016, tão cheia de graça até Tóquio 2020, quando soube desistir antes de se pôr em risco e deixou o mundo a falar da saúde mental dos atletas.

Do alto dos seus 1,42m, Simone está a tentar manter-se longe da ribalta, mas o brilho daquele fato será sempre mais forte do que os outros. Todos sabemos que dificilmente voltaremos a ver esta conjugação perfeita entre força e potência e controlo de movimentos e elegância.

Com ela, mas não só, a ginástica artística deixou de ser o campo das atletas brancas, loiras, com o cabelo liso e preso num rabo-de-cavalo perfeito. Simone é mulher, é negra, nasceu numa família desfavorecida e, enquanto penteia o cabelo como quer ou como dá, deu nome a cinco exercícios que nunca nenhuma ginasta tinha executado.

Por ela, mas não só, a ginástica deixou de esconder os métodos abusivos e os verdadeiros abusadores (Larry Nassar). E a quantidade de meninas que podem agora dedicar-se ao Desporto estando menos expostas a isso vale muito mais do que todas as medalhas conquistadas.

Nos últimos anos, Biles afastou-se da ginástica, fez terapia e teve uma vida normal longe da trave, dos saltos, das paralelas ou do solo (Simone, desculpa a pressão, mas que saudades de ver-te no solo!). E, aos 27 anos, tudo o que me resta desejar agora é que se divirta. Que sorria não para disfarçar outros sentimentos, mas com a certeza de que é feliz a fazer isto, mesmo tendo nascido com tantas desvantagens em relação a outros.

Simone Biles foi uma explosão de alegria no Rio de Janeiro, uma reflexão necessária em Tóquio e espero que saia de Paris não com uma depressão pós-Jogos (como revelou ser habitual, num documentário em exibição na Netflix), mas com o orgulho de saber que é a Greatest OAll Time.

Agora sim, vamos lá aos Jogos Olímpicos!

P.S. Pode acompanhar tudo sobre Paris 2024 na página especial de A BOLA e pelo olhar das reportagens do nosso enviado-especial Adérito Esteves.