Opinião Simeone e os cocós de cão

OPINIÃO02.10.202412:29

Dizer que os adeptos do Atlético de Madrid reagiram aos festejos de Courtois faz lembrar os juízes que desculpabilizam violadores «porque ela tinha um decote provocador»

O único fator que aproxima alguns adeptos do Atlético de Madrid do grau mínimo de civilidade é terem apanhado cocós de cão do passeio, coisa que muitos portugueses não fazem, como todos sabemos e já experimentámos, uma vez ou outra, na sola dos sapatos.

O treinador de um clube de topo da Europa não pode contemporizar, por um segundo que seja, com gente que atira cocós de cão ao guarda-redes contrário. Ou todos os outros objetos que foram arremessados em direção a Courtois, no último domingo, porque o guarda-redes do Real Madrid, veja-se bem a heresia!, festejou um golo da sua equipa.

O Atlético de Madrid reagiu bem aos acontecimentos que obrigaram à interrupção de um dos mais belos dérbis do Mundo. Segundo as informações mais recentes, o primeiro adepto identificado foi expulso de sócio e impedido de voltar a entrar no estádio. Prosseguem averiguações no sentido de identificar mais alguns e proceder da mesma forma, mas a verdade é que muitos dos ultras que ocupam a curva Sul do Civitas Metropolitano estão ostensivamente de cara tapada por passa-montanhas, coisa própria dos cobardes. Em Portugal, por exemplo, isso é motivo de identificação pela polícia e posterior julgamento, com a pena mínima de multa para quem se esconde atrás de tecidos.

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O que Diego Simeone fez, na conferência de imprensa a seguir ao jogo, foi um «erraram mas...». Os pobres recoletores de cocó de cão tinham levado os sacos cheios de merda para o estádio, e de repente, provocados pelos festejos de um adversário, não resistiram a despejar logo ali o que tinham planeado colocar no caixote de lixo dos resíduos orgânicos ou indeferenciados, mal acabasse o jogo.

Faz lembrar juízes que atenuam penas de violadores porque a mulher tinha um decote ou uma minissaia. «Ela é que se pôs a jeito», diz a justiça popular, que depois consegue juntar centenas de pessoas a gritar contra a imigração, mesmo conhecendo (e querendo ignorar) a importância que os imigrantes têm na natalidade e nas contribuições para o fisco e a segurança social, para não falar de questões culturais que são mais complicadas de entender.

É tudo demasiado fácil de processar, sobretudo se vem de um tipo que parece o Tom Waits e se veste de preto, com gravata, para gesticular 90 minutos no banco. Não, Diego: não há «mas» nestas coisas. E é tempo de todos entendermos o lado certo da força.