Sempre campeãs
Depois de carreiras de sucessivos recordes nacionais, participações em Europeus, Mundiais e Jogos Olímpicos onde elevaram a natação portuguesa, Ana Catarina Monteiro e Tamila Holub deixam a natação e saudade em que teve hipótese de trabalhar com elas, não só como nadadoras de elevado nível, mas como pessoas que sempre disponíveis a abertas a contar o que lhe ia na alma e nos sonhos.
Sem que os Nacionais de natação do fim de semana tenham ficado marcados por quedas de recordes absolutos ou marcas que os tenham ameaçado, o fim das provas no Jamor foi emotivo com o adeus de várias pessoas. Entre elas Ana Catarina Monteiro, do Vilacondense, e Tamila Holub, do Sporting de Braga. Ainda que, neste caso, não tenha sido definitivo porque lhe custa dizer, para já: não quero mais isto.
Percursos distintos. A primeira, deixa a competição aos 30 anos, não despontou desde cedo na Seleções, mas a persistência e trabalho permitiu que, mais tarde, o que ambicionava fosse realidade. A segunda, de 25, uma estrela desde jovem que sucessivamente derrubou máximos nos escalões de formação e sagrou-se campeã e vice-campeã europeia júnior.
Em comum o comprometimento numa modalidade que não é fácil tal a carga de treino. Não digo que fizeram sacrifícios. Não gosto desse significado quando alguém fez o que quis e não porque estava obrigado. Podiam ter sido as melhores a sair com os amigos, a jogar videojogos, ver televisão… Mas não, quiseram sê-lo no que as apaixonava. Abdicaram, não se sacrificaram. É improvável que alguém chegue aos Jogos Olímpicos e Mundiais obrigado, tem -se prazer no que se faz e deseja-se ser melhor, todos os dias.
Ambas nadaram nos maiores palcos. Tamila, especialista sobretudo nos 400, 800 e 1500 livres, competiu nos Jogos do Rio-2016 e Tóquio-2020, disputou sete mundiais de piscina curta e longa, sendo uma vez semifinalista, e sete europeus, onde foi finalista em quatro ocasiões. Ana Catarina, nadadora sobretudo de 100 e 200 mariposa, em Tóquio-2020 e tornou-se na primeira semifinalista lusa — terceira de sempre depois de Alexandre Yokochi e Alexis Santos —, conseguindo ainda uma final e duas meias-finais em quatro Mundiais e uma final e duas semifinais em sete Europeus.
Mas também são duas pessoas extraordinárias que perceberam e ajudaram quem escrevia sobre elas. Discursos estruturados, permitiram boas entrevistas. Davam-se tanto a falar como a competir. Antes de entrevistar Tamila já sabia que teria duas ou três histórias deliciosas que me resolviam o título e com a Ana Catarina que não havia dúvida na clareza de ideias. Quando estivemos juntos em Jogos, Mundiais e Europeus ou ficava em Portugal, sempre ajudaram a que também eu pudesse bater os meus recordes. Devido ao trabalho não estive nas suas últimas provas de alta competição, mas já me disseram que esse adeus, afinal, será apenas um até já na vida. Obrigado pelo que são.