Semana do Dia da Espiga

OPINIÃO09.05.202102:00

Nestas circunstâncias bem extraordinárias não se pode estar fora da Liga dos Campeões por mais de duas épocas. Não se pode mesmo.

Acredito que os cinco primeiros lugares da nossa Liga estão consolidados. O Sporting de Frederico Varandas e Rúben Amorim será o justo campeão nacional. O Futebol Clube do Porto de Sérgio Conceição terá o acesso direto à fase de grupos da Liga dos Campeões. O Benfica de Jorge Jesus lutará, no arranque de agosto, pela presença, bem necessária , na mesma fase de grupos, e olhará, nos próximos dias, para as diferentes ligas europeias, principalmente para a francesa e para a sua classificação final. E sem ignorar que seria importante que o Manchester United conquistasse a Liga Europa! O Sporting de Braga de Carlos Carvalhal e António Salvador tem lugar garantido, e pela presença na final da Taça de Portugal e do acesso do Benfica ao play-off da Liga dos Campeões, na fase de grupos da Liga Europa. E o Paços de Ferreira, com a liderança sagaz de Pepa, já sabe que, mais cedo ou mais tarde - depende do quinto ou do sexto lugar! - marcará presença na nova competição europeia, uma verdadeira Liga Europa 2, denominada Liga Conferência (em português!). Se para a Europa, e os seus importantes  dinheiros, os lugares estão, salvo uma surpresa surpreendente, definidos, acredito que vamos ter lutas terríveis para a não descida de divisão e, logo, para uma descida abissal nas receitas televisivas que são, hoje em dia - e para todos! - a principal fonte de receita do nosso futebol. A luta será, acredito, até à derradeira jornada e envolve clubes que, no arranque desta singular época, nunca antecipavam  estar na situação delicada em que se encontram nesta primeira quinzena de maio. Que, depois da conquista da Liga dos Campeões em futsal pelo Sporting, será, claramente, um maio verde. Para a semana, na quinta-feira 13, celebramos a Quinta Feira de Ascensão. É uma festa móvel e é celebrada 40 dias após a Páscoa. E é também o Dia da Espiga, o momento de agradecer as primeiras colheitas do ano e que coincidem com o meio da primavera. Porventura com as primeiras cerejas a degustar! E recordo a minha infância, o ramo de várias flores e ervas e que era guardado atrás da porta da rua. E lembro-me até que em dia de trovoada, e dos seus intensos raios, se se queimasse um pouco do ramo a trovoada passava! E lá estavam no ramo, o amor na papoila , a riqueza no malmequer, a saúde no alecrim, a alegria na videira e a paz, sempre a paz que se busca, nas folhas de oliveira. A tradição , que não podemos esquecer nem deixar de oralmente transmitir aos que nos são próximos , leva-nos na próxima quinta-feira a celebrar a Ascensão e a Espiga. E, aqui, e no desporto, a consciência da paz é uma urgência nesta crispação que nos afoga e nesta desconfiança que nos abala. Sei bem o que é a dor e o que é o prazer. E sei que «correndo em busca do prazer, tropeça-se com a dor». Foi o que me aconteceu, na passada quinta-feira, no final do jogo entre o Benfica e o Futebol Clube do Porto. Tendo a consciência que foi perdoada a expulsão ao Pepe e que a partir de certo momento, e com os riscos inerentes, o Futebol Clube do Porto não queria perder para garantir o acesso direto à Liga dos milhões. E, assim, para mim o prazer, sempre legítimo,  tornou-se «filho da angústia»! E com a necessidade de em momento oportuno refletir acerca do Benfica, do seu futuro próximo, das clivagens que o marcam, das urgências que o podem condicionar e da estratégia que, no pluralismo que o identifica, deve ser protagonizada. Sabendo todos e todas que a não presença na fase de grupos da Liga dos Campeões na próxima época desportiva será uma imensa dor financeira e uma intensa dor desportiva. Não acompanhando, aqui, Pierre Lémontey quando escreveu que «as dores humanas são séculos, os prazeres instantes »! Nem aqueles que proclamam que importa ter a «sede de sofrer»! Nestes tempos difíceis e nestas circunstâncias bem extraordinárias não se pode estar fora da Liga dos Campeões por mais de duas épocas. Não se pode mesmo.

Sejamos diretos. A macrocefalia do desporto português aí está nas fases finais das principais modalidades , ditas amadoras mas clara e assumidamente  profissionais. No voleibol a conquista foi do Benfica. No futsal  acredito que a luta pelo título de campeão será entre Benfica e Sporting. No hóquei em patins o Benfica superou, ontem, no primeiro  jogo das meias-finais, o Futebol Cube do Porto, e o vencedor encontrará , provavelmente, o Sporting . Sem menosprezo do Óquei de Barcelos. E no basquetebol Benfica e Sporting  lutam pela presença na final… onde encontrarão, certamente, o Futebol Clube do Porto. E no andebol  luta será entre… Sporting e… Futebol Clube do Porto! Em termos femininos o Benfica ganha relevância, seja no futsal, no polo aquático,  no hóquei ou, como ontem, no basquetebol. Tal como a disputa final em futebol feminino é entre… Sporting e Benfica. Em râguebi encontramos uma das exceções com os quinzes de Direito, CDUL, Técnico ou Agronomia a serem os dominantes.  Acredito que a pandemia acentuou a macrocefalia e o domínio dos três grandes no e do desporto português. Também nesta sede os apoios anunciados ao desporto são não só urgentes mas devem ser pensados para ajudar os pequenos e médios clubes de Portugal - de todo o Portugal - que são os verdadeiros  alimentadores dos grandes, sem esquecer, nestes, e bem, o cuidado nas respetivas e especificas áreas de formação. Tenho a consciência que a macrocefalia está para ficar. Mas nada como, nuns Estados Gerais do Desporto Português, refletir, com diferentes personalidades, os efeitos, diria que devastadores, da pandemia na estrutura do tecido desportivo português. E analisando os critérios, bem diferentes, dos apoios  autárquicos nestes meses de duro e necessário  confinamento e de paragem da atividade desportiva em todos os domínios e, por excelência, na formação. Sabendo bem com Michel Montaigne que «o nosso maior prazer  neste mundo são os pensamentos agradáveis»! E como importa ter, neste maio, pensamentos agradáveis!!