Se o City pode, todos podem
Bernardo Silva e Haaland. IMAGO
Foto: IMAGO

Se o City pode, todos podem

OPINIÃO12.04.202407:00

Quem diria que abrir uma equipa ao mundo mostraria que eles são humanos como nós...

Ando a ver o documentário da Netflix sobre o triplete do Man. City na época passada. Para quem gosta de futebol, é um prazer voltar a desfrutar do que esta equipa fez (e ainda faz). O talento é visível a cada treino e toque na bola, a motivação para ganhar é trabalhada ao milésimo de segundo e as palestras de Guardiola, alternando entre o «gosto muito de vocês» e o «estou velho e já não posso estar sempre a dizer-vos o que fazer», valeriam qualquer assinatura mensal.

Mas o que realmente faz a diferença não é isso. O que podemos ver aqui e a que só muito raramente temos acesso é aos jogadores e à forma como se relacionam nos bastidores. Já sabíamos que Grealish tem ar de rei da festa, mas agora vemos como está sempre a picar Bernardo Silva, ou como, quando alguém prega uma partida no balneário, já está à espera que o culpem a si. Também já tínhamos reparado que De Bruyne é um génio, só não tínhamos noção que tem um timing de comédia de humorista (e que não tem tempo para vestir roupas à futebolista, porque tem três filhos e mais que fazer - uno di noi!).

Já tínhamos lido - em A BOLA - que Rúben Dias quer ser adjunto de Bernardo, mas agora vemos que o central já é um líder e, lá dentro, não o esconde. Já tínhamos visto que Rodri é uma máquina em campo, só não sabíamos que ele dá umas excelentes aulas de hidroginástica para jogadores milionários («O exercício da minha avó», como faz notar Bernardo) e que quer sempre ganhar (e humilhar ligeiramente os colegas) também no ping-pong e nos dilemas mais absurdos e ao mesmo tempo geniais que surgem naquelas cabeças.

«Rúben Dias e eu dizemos que seremos adjuntos um do outro»

27 dezembro 2023, 09:30

«Rúben Dias e eu dizemos que seremos adjuntos um do outro»

ENTREVISTA EXCLUSIVA - Bernardo não poupa nos elogios a Rúben Dias, a quem perspetiva um futuro brilhante. Fala ainda de Matheus Nunes e de uns primeiros meses de adaptação e da relação em campo com Erling Haaland, que a equipa pretende ver mais envolvido no jogo.

A certa altura, durante uma época desgastante e em que o único momento zen é quando vão regar o bonsai de Haaland (não estava à espera desta, pois não?), surge este debate no ginásio do Man. City: quem seria mais perigoso encontrar, um hipopótamo ou um crocodilo? Sim, parece uma brincadeira, algo para descontrair, mas estes jogadores não saem do modo ultra-competitivo. Todos respondem hipopótamo, menos Rodri. De Bruyne goza-o por achar que o hipopótamo é um animal fofinho para dar um abraço, Haaland trata-o como um idiota por não conhecer todas as características deste animal. Mas Rodri não desiste, abre os braços como a boca de um crocodilo e continua convicto. Não tem problema em ser um contra todos, porque usa isso no futebol também a seu favor. E confesso que me deixou a pensar com o argumento de que um hipopótamo vemos sempre, mas um crocodilo não.

Enfim, dilemas essenciais destes à parte, quem diria que mostrar assim esta equipa nos faria gostar mais dela, hein? Os maiores talentos do mundo são humanos, têm graça, brincam, são tão profissionais quanto normais. Claro que o documentário terá tido regras e controlos, mas e se outros tentarem mostrar-se mais vão perder o quê mesmo? Se o Man. City pode, arranjem lá melhores desculpas para não se esconderem.