Passados 25 anos da entrada no novo século já todos percebemos que os ideais e valores do século XXI, fundamentalmente no pós-Guerra, período de maior devastação que o ser humano foi capaz de produzir, estão praticamente relegados para os livros de história por troca de uma ordem para a qual ainda não foi dado qualquer nome – talvez isso venha a ser matéria para a Inteligência Artificial. É legítimo pensar que começou uma nova era com a reeleição de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos da América e percebermos, até os mais ingénuos, que a lei da força veio para ficar. Se não consegues combater os ditadores com o poder da democracia e do humanismo, então torna-te igual a eles. É uma época que ameaça fundir-se com o surrealismo de há cem anos. Ouvimos ou lemos que a maior potência militar e económica do mundo pode tirar um território europeu (Gronelândia) a um país da União Europeia (Dinamarca) e acreditamos que tal é possível. Porque sim. E colocamo-nos a admitir outras hipóteses, mais ou menos remotas: e porque não os Açores? Afinal é um arquipélago ali a meio caminho no Atlântico e tem a base das Lajes, de importância estratégica em tempos de belicismo que prometem estar de volta. Em boa verdade é caso para começarmos a pensar que nada está garantido e tudo pode mudar. No desporto também. Não deixa de ser irónico que o próximo Mundial de futebol, em 2026, se realize em três países vizinhos cuja potência maior (Estados Unidos) tem como primeira medida da nova Administração Trump taxar ao máximo os bens que vêm das fronteiras Norte e Sul e até ameaçar com a anexação do Canadá. Porque a partir de agora tudo é possível. Até quem sabe vermos o Santa Clara jogar contra o Inter Miami de Lionel Messi, num dos novos dérbis da conferência Este da Major League Soccer (MLS). Jorge Jesus expressou novamente o sonho de ser campeão do mundo por uma seleção, admitindo que por razões óbvias (relação emocional e domínio da língua) isso seria possível apenas no Brasil ou em Portugal. Seja pela sua forma muito própria de ser e trabalhar ou porque tenha preferido rumar a latitudes mais exóticas na busca de mais experiência, dinheiro e notoriedade, JJ foi sempre posto à margem da lista de potenciais selecionadores nacionais. Mas talvez esteja na hora de Jesus fazer parte da equação. Pode não ter o perfil do tradicional selecionador (aquele que tenta ser conciliador, polido e um gestor harmonioso de egos) mas o que fez no Flamengo e na segunda passagem pela Arábia Saudita tem contrariado o que muitos pensavam dele: de que não sobreviveria entre estrelas pagas principescamente. Não só sobreviveu como os conquistou. Basta ler e ouvir o que eles dizem. Há 20 anos que os três grandes não trocavam de técnico ao mesmo tempo (em 2004, todos mudaram, mas no verão) e pela primeira vez em 91 anos fizeram-no no decorrer da temporada. 2024/2025 promete ser a época mais eficaz da máquina de triturar treinadores quando ainda falta realizar uma volta. São seis, para já, os heróis da resistência: João Pereira (Casa Pia), César Peixoto (Moreirense), Ian Cathro (Estoril), Tiago Margarido (Nacional), Cristiano Bacci (Boavista) e Vasco Matos (Santa Clara), este último a grande revelação da temporada e já com vários interessados em tirá-lo de Ponta Delgada. Ficando, nunca se sabe se não mudará de campeonato sem mudar. Tudo depende do que pensam o Pentágono e a Casa Branca.