OPINIÃO Rui Costa: qual o caminho a seguir?
Há um ano, por esta altura, o Benfica estava a jogar jogos decisivos contra FC Porto e Inter de Milão. Foi precisamente nesta altura que a equipa caiu exibicionalmente e começou a mostrar uma faceta que, até então, não conhecíamos. Foi também por volta desta altura que a Direção encarnada entendeu renovar com o treinador por mais três anos, quando este ainda tinha mais um ano de contrato.
A renovação de Schmidt
Quem gere e tem responsabilidades nunca se deve deixar levar pela emoção. Um bom gestor é aquele que tem a capacidade de ser racional e de conseguir justificar as opções que toma em cada momento. Podem não ser as mais acertadas, pode até errar, mas tem de saber apresentar os motivos pelos quais tomou uma decisão num determinado momento. No caso da renovação de Roger Schmidt, encontro aqui vários motivos que a podem justificar (embora não concorde com eles) e também outros que não fazem sentido.
O que encantou a Direção
A Direção encarnada ficou iludida com o futebol apresentado na primeira metade da época 2022/2023. Tratava-se de uma equipa agressiva, intensa, que nunca desligava e que queria sempre mais. Tinha uma grande reação à perda de bola, que é uma característica típica das equipas treinadas por Roger Schmidt. Complementarmente, o treinador alemão tem outra competência que se enquadra na forma como o Benfica pretende orientar o seu projeto, que passa por olhar para a formação e por não ter medo de apostar em jogadores jovens. Como exemplos óbvios temos António Silva, que assumiu a titularidade e não mais a largou, João Neves, que foi lançado num momento decisivo da época passada, Gonçalo Ramos, em quem poucos internamente acreditavam, e Florentino, que regressou de empréstimos sucessivos e teve um papel determinante na equipa.
A expetativa criada pela conjugação entre o futebol apresentado e os resultados, numa altura em que as decisões se aproximavam, fizeram com que a Direção avançasse para a renovação. Do ponto de vista do gestor, o timing foi o pior possível porque a euforia fazia parte do dia a dia da equipa naquele momento. Do ponto de vista do adepto, ou seja, do lado sentimental, o timing foi o ideal. A questão é que quem lidera tem de ser racional e não sentimental…
O que estava (in)visível
Há um ano já se percebiam as debilidades da forma de trabalhar do treinador alemão. A dificuldade na transição defensiva, apesar de mais escondida, era bem visível. Schmidt nunca conseguiu trabalhar/corrigir este ponto fraco do seu jogo, porque a reação à perda era boa e porque Florentino, pela sua qualidade individual, conseguia camuflar esta questão. Outro ponto importante é que o Benfica joga sempre da mesma forma independentemente do adversário.
Estrategicamente, Schmidt não prepara os jogos para surpreender ou para condicionar os pontos fortes dos adversários. Olha para si e tão só para si. Aqui o problema é que, quando os concorrentes começam a perceber a forma de jogar do clube encarnado, torna-se necessário criar dificuldades adicionais aos adversários e, neste ponto, o treinador alemão não tem essa característica. Para RS o plantel só tem 13/14 jogadores. No ano passado isto já era bem visível, pela forma como raramente mexia na equipa, de início ou mesmo durante os jogos com substituições tardias. Outro ponto menos positivo na forma de trabalhar do treinador germânico é que não tem capacidade de ajudar a equipa dentro dos 90 minutos. Se as coisas correrem bem de início, tudo funciona, caso contrário não esperem que o treinador alemão acrescente muito, simplesmente, porque não tem essa competência. A comunicação, até ao momento da renovação, foi sempre simples, alegre, até porque tudo corria bem. Tendo em conta todos estes fatores, a Direção encarnada não só decidiu renovar por mais três anos como ainda ofereceu um contrato digno da Premier League. A decisão, além de precipitada, acabou por condicionar todo o futuro imediato pela dimensão do contrato em causa. Por muito que se justificasse uma renovação, os clubes portugueses têm de ter a noção das suas limitações financeiras.
Será que se justifica pagar 8M€, 10M€ e 12M€/ano para um treinador tentar ser campeão em Portugal? Este esforço financeiro justifica esta aposta? Não haverá mais treinadores no mercado com ambição, qualidade e com o perfil que os clubes pretendem mas dentro do orçamento dos clubes portugueses? Por fim, o Benfica não só renovou por um contrato desta dimensão como ainda pagou 2,4M€ aos representantes de Schmidt por esta renovação!
Schmidt: fica ou sai?
Em função da expetativa criada, das debilidades demonstradas pelo treinador alemão, da sua comunicação débil e da fraca qualidade de jogo apresentada este ano, o desgaste dos adeptos é enorme. A assobiadela no final do jogo com o Marselha demonstra isto mesmo, a falta de paciência para com Roger Schmidt. Esta impaciência não teve a ver com a forma como a equipa jogou, mas, sobretudo, com a incapacidade do treinador alemão perceber o que se estava a passar nos últimos 30 minutos e a sua incapacidade de mexer com a equipa. A realidade é que o Benfica ainda pode vencer o campeonato (embora seja difícil) e tem todas as condições para estar na meia-final da Liga Europa, porque é superior a este Marselha. É verdade que vai ter menos dias para preparar a difícil deslocação ao Vélodrome, mas, neste caso, apenas a Direção pode justificar o motivo pelo qual não quis adiar o jogo com o Moreirense… Regressando a Roger Schmidt, se o Benfica chegar ao fim da época sem ganhar nada, qual vai ser a decisão da Direção? Para mim parece-me óbvio o caminho a seguir.
Em primeiro lugar, quando se renova três anos com um treinador, sabe-se que existirão bons e maus momentos. A dimensão do contrato que o Benfica rubricou com RS demonstra, claramente, a aposta da administração encarnada no treinador para o projeto. Existem inúmeros casos de treinadores que tiveram um ano incrível, seguido de um ano menos
positivo (Jorge Jesus ou Rúben Amorim, por exemplo), e que conseguiram voltar a demonstrar toda a sua qualidade. Outro ponto que deve fazer com que o treinador alemão fique são os 20M de euros que a rescisão implicaria.
Internamente, existem vozes para que Rui Costa despeça RS. Convém lembrar que foram estas mesmas vozes que aplaudiram a renovação há um ano. Se o caminho for o da continuidade, será importante que a atual administração tenha a capacidade de ajudar o treinador alemão e que este queira ser ajudado em alguns pontos importantes, nomeadamente na comunicação (antes e após os jogos) e na empatia que tem de se criar com os adeptos. A escolha de jogadores que encaixem no perfil de jogo de Schmidt é outro ponto obrigatório, caso contrário, o treinador alemão (como já demonstrou) vai ter muitas dificuldades.
Por fim, parece-me que seria importante que Rui Costa se conseguisse rodear de pessoas com outra capacidade, pessoas com visão e que o confrontem de uma forma positiva. Neste ponto, quem leu a última entrevista do número dois da estrutura benfiquista percebe as limitações que existem na atual administração.
A VALORIZAR
VITINHA: O PSG perdeu frente ao Barcelona, mas Vitinha encantou. Jogou e fez jogar. Enorme qualidade na posse e na definição.
A DESVALORIZAR
ANTÓNIO SILVA: Tem cometido erros que não lhe são habituais. Frente ao Marselha voltou a facilitar, permitindo à equipa francesa equilibrar a eliminatória.