Frederico Varandas falhou na escolha de João Pereira. Percebo a decisão do presidente, mas o certo é que nada lhe saiu bem. O convite do Manchester United a Ruben Amorim caiu como uma bomba em Alvalade e os danos colaterais foram gigantes e, acrescente-se, previsíveis. O treinador deixou-se seduzir pelos ingleses, Frederico Varandas nada pôde fazer para o segurar, como o próprio já confessou publicamente, e o máximo que conseguiu foi mantê-lo mais quatro jogos no banco. E que jogos! Qualificação para a final four da Taça da Liga (3-1 ao Nacional), goleada ao E. Amadora (5-1) e brilhantes vitórias sobre Manchester City (4-1) e SC Braga (4-2, após estar a perder 0-2). Se a fasquia já estava alta, mais elevada Amorim a deixou antes de rumar aos red devils. Assim ao jeito do melhor Sporting dos últimos 40 anos! A equipa estava a praticar um futebol de encantar e o presidente pensou que o melhor era alterar o menos possível. Tinha uma grande convicção no potencial de João Pereira, como há muito o tinha confessado, e decidiu-se pela promoção do treinador da equipa B, que teve o tal espaço entre aqueles quatro jogos para se preparar para a nova realidade. Não conseguiu. Não há outra forma de o dizer: João Pereira falhou. As razões foram várias e só o tempo nos ajudará a perceber todos os contornos. Certo é que o Sporting baixou drasticamente o nível e basta verificar os números de João Pereira: oito jogos, quatro derrotas e consecutivas (Arsenal, 1-5; Santa Clara, 0-1; Moreirense, 1-2; Club Brugge, 1-2), um empate (o nulo da despedida em Barcelos) e três vitórias, uma sem impacto, dada a fragilidade do adversário, o Amarante, da Liga 3, (6-0) e duas sofridíssimas (3-2 sobre o Boavista e 2-1 sobre o Santa Clara, para a Taça de Portugal e apenas após prolongamento). E ainda por cima em Alvalade. Que com Amorim foi uma fortaleza… Cedo se percebeu que João Pereira não tinha condições para continuar e Frederico Varandas terá sido o último a admiti-lo.A queda do Sporting para o segundo lugar, ultrapassado pelo rival Benfica e com a agravante de ser em vésperas de dérbi em… Alvalade, terá sido a gota de água. Num ápice, o sonho do bicampeonato passou a ter contornos de pesadelo e havia que reagir. Eis que chega Rui Borges. Mais uma vez percebo a escolha, mas considero-a uma aposta de risco. Entendo, tal como no final de outubro, que o Sporting necessitava de um treinador com outro estatuto para substituir Ruben Amorim. Um com currículo e que se impusesse de imediato. Assim, do tipo: ‘Olá, já ganhei isto e isto e mais isto e a partir de hoje vamos jogar desta forma. Entendido?’ Ou seja, que ninguém questionasse. A começar, claro, pelos jogadores… Rui Borges, todos o sabemos, não é esse treinador consagrado. Aprecio o trajeto feito desde o dia em deixou o Mirandela, no qual se começou a destacar e já tive a oportunidade de lhe o dizer pessoalmente. Fez sempre bons trabalhos, no Académico de Viseu, Académica, Nacional, Vilafranquense, Mafra, Moreirense e V. Guimarães, estes dois já na Liga. Mas no currículo o melhor que se encontra é o sexto lugar com o Moreirense e a qualificação, sem derrotas, do Vitória para os oitavos de final da Liga Conferência. É, obviamente, pouco, mas temos de ter em consideração que, aos 43 anos, nem época e meia ainda tem na Liga. Frederico Varandas queria um treinador português — desde a contratação de Marcel Keizer que percebeu que não é fácil para um estrangeiro mais do que impor-se perceber o futebol luso (não é, Roger Schmidt?...) —, mas, de momento, não há nenhum consagrado disponível ou interessado em abandonar o projeto para abraçar o dos leões. A escolha está feita. É Rui Borges o treinador. E Frederico Varandas terá de lhe dar todas as condições. Já em janeiro… O ex-técnico do V. Guimarães privilegia o 4x3x3 e o Sporting não tem plantel para atuar nesse modelo. O reinado de Amorim foi construído no 3x4x3 e agora faltam peças para jogar de forma diferente. A começar por laterais que sejam primeiro defesas e a terminar em extremos que joguem como tal, sobre as linhas. Isto para já não falar que só há três médios para um meio-campo a três… Rui Borges tem muito trabalho pela frente e Varandas também. O treinador merece crédito e a Administração tem de lhe dar todas as condições (leia-se reforços). Caso contrário, o Sporting continuará a ter muitos problemas. E Varandas, certamente, não quererá repetir a época 2019/2020, com Marcel Keizer, Leonel Pontes e Jorge Silas como treinadores até chegar… Ruben Amorim.