Ruben Amorim dá indicações
Ruben Amorim, treinador do Manchester United
Foto: IMAGO

OPINIÃO DE LILIANA PITACHO Ruben Amorim: do sucesso no Sporting à pressão no United

OPINIÃO09:30

Em Inglaterra, exige-se ao treinador um ajuste claro da estratégia comunicacional interna

Reconhecido pelo seu trabalho transformador no Sporting Clube de Portugal, a chegada de Ruben Amorim ao Manchester United marcou o início de uma nova era de renovada esperança para o clube, que há anos busca retomar sua posição de destaque no futebol europeu. A verdade é que se criou a expectativa de que Amorim chegaria que nem um mágico que em pouco tempo colocaria a equipa a somar pontos. Contudo, não só os pontos teimam não chegar como as a exibições são periclitantes, começando-se mesmo a equacionar uma saída precoce. Poderá mesmo Amorim ter perdido talento? Os resultados de um treinador nunca estarão limitados ao seu talento (obviamente é necessário atender ao talento do próprio plantel), mas também ao contexto e ao fit entre o perfil do treinador e o perfil do plantel.

A imagem que temos de Ruben Amorim (ainda com um currículo curto enquanto treinador) é marcada pela forma como transformou o SCP em uma equipa vencedora. No Sporting, ele soube criar uma narrativa coletiva que unia jogadores jovens e inexperientes em torno de um objetivo claro: devolver o clube à rota dos títulos. A sua estratégia de comunicação enfatiza a importância de três dimensões psicológicas básicas: autonomia, competência e relacionamento. Este estilo resultou perfeitamente na estratégia de criação de uma equipa, sem experiência, sem currículos e com poucos egos.

Mas o cenário que Amorim encontrou em Old Trafford foi completamente diferente, o desafio não era a criação de uma equipa, mas sim os resultados. Enquanto em Alvalade Amorim pôde construir, com tempo, uma equipa (passando do estágio de forming até ao performing), em Manchester há sede de resultados, ou seja, é esperado que o treinador entre rapidamente em estágio de performing sem passar pelas restantes etapas. Como tal, a estratégia de comunicação utilizada outrora no SCP não tem o mesmo fit perfeito com o contexto em Inglaterra. Por outro lado, também as características do plantel são bem diferenciadas. Ao contrário do que encontrou em Alvalade, o plantel do United é formado por jogadores altamente experientes e com currículos recheados de títulos e por jovens estrelas, o que poderá dificultar a perceção de Ruben Amorim como líder natural do grupo. Aqui a tarefa de Amorim não é sobre construir confiança básica, mas sim sobre gerir expectativas, motivações e egos, o que exige um ajuste claro da estratégia comunicacional interna.

O perfil de Amorim poderia não ser o que melhor encaixa na realidade do Manchester tal como o conhecemos hoje. Mas a escolha está feita e, acreditando na competência estratégica e tática do treinador, o seu sucesso estará sobretudo dependente da sua capacidade de adaptação, mas também da capacidade de resiliência dos órgãos de gestão do clube para dar a Amorim o tempo e condições que ele necessita para encontrar o fit entre liderança e plantel. A questão reside em saber se estará o United disposto às mudanças e a esse tempo.