Relatório com ou sem armadilhas?

As contas do exercício 2023/24 da SAD do FC Porto estão a sair. Para quem deixou 8 mil euros nos cofres, não será uma preocupação. 'Estádio do Bolhão' é o espaço de opinião semanal do jornalista Pascoal Sousa

As contas do exercício 2023/2024 da SAD FC Porto estão aí à porta e será interessante verificar que armadilhas (se as há, claro) a anterior gestão deixou à atual. O primeiro semestre foi como um conto de fadas: €35 M de lucro, redução dos capitais próprios negativos para €8,5 M, com previsão de que este item seria positivo em €1,1 M com o dinheiro da Champions. Veremos.

É bom lembrar que esta redução dos capitais próprios negativos foi alcançada, em larga medida, pela avaliação dos fluxos de caixa gerados pelo Estádio do Dragão, avaliados em €279 M. Na contabilidade não basta dizer que 8 é 8. É necessário factualidade, para evitar chegar-se à conclusão de que, afinal, aquele 8 tão redondinho era -8 ou -80.

Claro que este quadro azul (até ao fim) não traduz a agonia que o FC Porto atravessa para mostrar à UEFA de que pode confiar numa boa governança para não atirar a equipa para fora das competições europeias. Tão grave como deixar 8 mil euros nos cofres, e afirmar-se que em 1982 tinha zero como argumento para limpar a consciência, é deixar uma instituição com a grandeza do FC Porto de novo na mira da UEFA. E mentir descaradamente sobre isso.

As SAD dos três grandes estão de saúde débil, mas o problema do FC Porto é mais acentuado pela dívida de curto prazo. Ou dívida que já passou amplamente do prazo, como se percebe pela persistência com que os credores batem à porta. Montar uma equipa competitiva e com excelentes reforços no meio deste caos parecia missão impossível. Mas aí está o dragão, a cuspir fogo, e já com uma Supertaça no museu.