Recordações e realizações
A sua bondade e a sua preciosidade fazem bem. A benfiquistas e sportinguistas, portistas e academistas, desportistas e não desportistas
Há sessenta e cinco anos o Domingo de Páscoa coincidiu com o primeiro dia de Abril. Este ano, o segundo da pandemia, percebemos que , entre nós, o «Natal quase matou a Páscoa»! Mas como a Páscoa, sempre louvada, é a «passagem da morte à vida», este domingo, bem confinado, abre-nos uma luz de esperança, raios de um progressivo desconfinamento, sinais de que podemos, com todo o cuidado, voltar a nos encontrar, a sorrir olhos nos olhos, a partilhar uma mesa comedida . Sinto vontade de voltar a entrar na Tia Matilde, aquele restaurante ecuménico, e de abraçar, mesmo que ao longe, o Tio Emílio - o Senhor Emílio Andrade Júnior - e felicitá-lo, vivamente, pelo seu centésimo aniversário. Sim, na passada sexta-feira fez 100 anos e estou certo que com toda a sua amada Família sorriu, apagou as cem velas e recordou uma vida de doação e de fraternidade, de partilha e de simpatia, de generosidade e de disponibilidade. O sócio nº. 1 do Benfica merece uma especial evocação no jornal do clube e merece que cada um de nós, seus admiradores, lhe digamos: bem haja pelo que fez pela gastronomia e por Lisboa, pelo desportivismo são e pelo Benfica. E um dia destes eu e o Joaquim, o Eduardo e o José Eugénio, o Manel e o Rui, e tantos e tantos outros, aí estaremos para, também recordando o saudoso Senhor Eusébio da Silva Ferreira, degustarmos os seus fantásticos manjares, sentirmos a ternura de toda a sua Família, olharmos para as fotografias que embelezam o seu singular restaurante e , no final, brindarmos, com um espumante bem português, ao seu aniversário. Com a certeza que, no próximo ano, o Senhor continuará a ter a vida bem cheia e, com o seu sorriso, continuará com o sentido de cuidar de nós, de cuidar destes outros que se sentem bem, mesmo muito bem, na sua Tia Matilde. E a sua bondade e a sua preciosidade fazem bem. A todos nós, benfiquistas e sportinguistas, portistas e academistas, desportistas e não desportistas. Já que, consigo, é verdadeira a conjugação do eu e do tu em nós! Muitas parabéns Tio Emílio! Mesmo com este atraso!
Neste domingo de Páscoa o Benfica pode conquistar, nos Açores, o título de campeão de voleibol e poderemos rever alguns dos jogos que ontem dominaram a agenda europeia do futebol: RB Leipzig-Bayern, PSG-Lille , Torino-Juventus ou o Arsenal-Liverpool. Sem ignoramos a disputa imensa , já quente, para a não descida de divisões seja na Liga NOS seja na Liga Sabseg. E, aqui, na segunda Liga a disputa é intensa e acesa, exige responsabilidade arbitral e acrescido cuidado quanto à verdade desportiva, seja nas descidas seja nas subidas. E, aqui, há muito para cuidar e muito para prever. Mas neste domingo disputa-se mais uma edição de uma das mais famosas - e mais antiga! - competição de remo do Mundo: a regata Oxford-Cambridge. Na verdade esta regata , nascida em 1829 e com a primeira edição feminina a realizar-se apenas em 1927! - , decorre, normalmente ao longo de 6,8 quilómetros do famoso Rio Tamisa . Este ano, após a suspensão no ano passado devido a esta pandemia que nos condiciona e angustia, regressa mas ao percurso de 1944, aos 4,9 quilómetros do Great River Ouse, a 120 quilómetros de Londres! Em 1944 a alteração do percurso deveu-se à precaução exigida pelos bombardeamentos nazis e determinou que a disputa universitária em remos se concretizasse com mais e acrescido cuidado. Agora é a pandemia a determinar o regresso a um percurso histórico! Outra recordação!
E por falar em história permitam-me, ainda, uma outra recordação neste Domingo de Páscoa. Há quase precisamente cinquenta anos - 5 de Abril de 1971! - realizava-se no Japão, em Nagoya, o 31º. Campeonato do Mundo de ténis de mesa. E determinou uma disputa entre o americano Glenn Cowan e o chinês Zhuang Zedong. Os EUA e a República Popular da China não se falavam. Três meses antes os EUA, e por excelência o seu acossado Presidente Richard Nixon, assumiam que estavam preparados para estabelecer o diálogo com Pequim e mencionavam pela primeira vez, e de forma revolucionária como confessa Henry Kissinger, a China como República Popular da China. É a conhecida diplomacia do ping pong e que levou a um salto imenso nas relações entre o imperialismo triunfante dos EUA e o comunismo isolacionista de Mao Zedong! O interessante é que os dois jogadores marcaram a história e Zhuang visitou, antes de morrer, Los Angeles e no cemitério onde repousam os restos mortais de Cowan e fez um emocionante discurso. Na verdade uma homenagem a um jogo, a uma disputa que ajudou a mudar a História. E foi há cinquenta anos. Metade da vida do nosso querido Tio Emílio!
Se as recordações são o perfume da nossa alma, temos de assumir, na linha de Ralph Emerson, que a realização - as realizações! - exige que façamos o máximo, «porque isso é tudo quanto há de ti»! É este máximo que se exige ao e no Benfica. Máximo de pontos nas próximas seis jornadas, ou seja, até à trigésima jornada com a deslocação a Tondela. Agora é a total concentração na Liga NOS, a realização, concretização efetiva, em cada «final de jogo» dos três pontos e, com estes ambicionados e legitmamente sonhados dezoito pontos a conquistar , fazer um abril perfeito , um abril encarnado, um abril em grande! O Benfica não pode ter, ao contrário do que ocorre, de novo, - a história repete-se, sem que poucos o relembrem … - na agenda politico -mediática , nenhum travão, nenhuma desilusão, nenhuma crise de resultados, que não de relacionamento institucional. O que o Benfica tem de concretizar , neste abril , é a «constância das vitórias»! E como lemos em William Shakespeare «se os homens fossem constantes, seriam perfeitos»! O que ambiciona cada benfiquista - e, por excelência , o seu sócio nº. 1 - é a perfeição, jornada a jornada três pontos conquistados. Sem se exigir nota artística. Esta nota concretiza-se no acesso direto à fase de grupos da Liga dos Campeões. É esta convicção que aqui exprimo. Sem esquecer que, até aqui, «a maior prova de coragem é suportar as derrotas sem perder o ânimo»! Aquele ânimo que sempre está, e estará bem presente, no marcante e estimulante quotidiano do Senhor Emílio Andrade! Cem anos de vida vivida!