Que comecem as decisões!
Toni (Foto MIGUEL NUNES)

Que comecem as decisões!

OPINIÃO31.03.202411:00

Estamos a caminhar a passos largos para o final da época 2023/2024. A semana que amanhã se inicia será uma das mais emocionantes que iremos ter até ao fim das competições internas. Dois vibrantes dérbis entre Benfica e Sporting e dois encontros entre Porto e Vitória que, tirando os três grandes, é claramente a equipa que tem mais adeptos e apoio no estádio.

Emoção e decisão

Os jogos entre Benfica e Sporting são especiais. A ansiedade, o nervosismo e a rivalidade que provocam nos adeptos são únicos. Este ano, estes dois jogos que se vão desenrolar na próxima semana ganham uma dimensão ainda maior. Porquê? Porque os dois encontros têm um caracter decisivo. A meio da semana está em causa uma passagem à final da Taça de Portugal. Todos sabemos que o principal objetivo dos dois emblemas de Lisboa é o campeonato nacional. Contudo, parece-me que nenhum dos treinadores irá fazer poupanças no jogo da próxima terça-feira. O motivo é simples de explicar. Além de estar em causa a passagem à final de um dos objetivos da época, este jogo acaba por ter influência no desafio entre as mesmas equipas, quatro dias depois, para a primeira liga. Quem conseguir vencer irá chegar mais motivado e mais confiante ao dérbi para o campeonato nacional. Mais, estes são os jogos em que tudo pode acontecer e em que o momento das equipas diz pouco. São encontros que apresentam uma adrenalina e uma carga emocional única e que tornam tudo ainda mais imprevisível.

 Quem está mais pressionado?

A pressão e o favoritismo acabam sempre por ser temas de conversa antes dos jogos. Em termos de futebol jogado percebemos que estamos na presença de duas abordagens distintas. O Sporting apresenta um coletivo mais trabalhado e potenciado, num onze de grande qualidade mas com menos opções no banco de suplentes. Já o Benfica, na época em curso, vive do rasgo e capacidade individual dos seus jogadores. Coletivamente ainda não se encontrou. Apesar disto, Roger Schmidt tem mais soluções no banco de suplentes do que o seu rival. A atual classificação espelha bem o trajeto das duas equipas ao longo dos meses de competição. Assim, para o jogo da Taça de Portugal, o Benfica é a equipa que está mais pressionada. Está em desvantagem, joga em casa e necessita de reforçar a confiança dos seus jogadores e adeptos para o importante jogo do campeonato que se joga quatro dias depois. Caso não consiga o apuramento para a final da Taça de Portugal, a pressão para o segundo jogo aumenta. De uma forma muito simples, no jogo de terça, o Benfica só pode vencer ou vencer. O Sporting, por seu lado, tem margem para os dois encontros. Está em vantagem na Taça de Portugal e para o campeonato tem um ponto de avanço e menos um jogo. A pressão está assim associada à margem de erro. Neste caso, de uma forma simples, todos percebemos que o Sporting tem mais margem de erro que o Benfica nos dois encontros. Por isso, Ruben Amorim pode fazer uma gestão diferente de jogo para jogo: no da Taça terá de fazer essa vantagem refletir-se dentro do próprio jogo, porque se trata de um encontro decisivo e, para o campeonato, a vantagem pontual que tem atualmente dar-lhe-á margem para gerir um eventual resultado negativo. Por fim, mesmo que o Benfica consiga carimbar a passagem para a final da Taça de Portugal, o jogo em Alvalade para o campeonato é determinante para o principal objetivo da época. Em caso de empate poderá ficar com quatro pontos de atraso (Sporting tem um jogo a menos) e em caso de derrota poderá ficar a sete pontos quando ficam a faltar apenas seis jogos para o fim da competição, tendo em conta também que o desequilíbrio entre os grandes e os restantes é abismal! Adicionalmente, em caso de resultado negativo, pode ficar mais pressionado pelo Porto que, se fizer o seu trabalho (frente a um grande Vitória), pode encurtar a distância pontual. Mais uma vez, no jogo do campeonato só a vitória interessa ao Benfica.

O discurso de Toni

Na gala do 120º aniversário, o Benfica homenageou uma das suas referências. Toni é, sem dúvida, uma personalidade única. Apesar de ser benfiquista, é respeitado e reconhecido por todos os adeptos. A homenagem a Toni simboliza aquilo que deveria existir no futebol em Portugal: respeito e admiração por aqueles que fizeram o seu papel com destaque. Sendo isto uma realidade, o que pretendo destacar é o discurso que Toni teve aquando da atribuição do prémio carreira. Valorizou todos aqueles que o ajudaram ao longo dos anos. Relembrou muitos que já cá não estão, mas que tiveram um papel fundamental no seu crescimento. Emocionou-se quando falou dos pais e demonstrou a importância da família numa profissão de desgaste rápido, como a de futebolista, ou de grande intensidade, como a de treinador. Por fim, fez questão de dedicar algumas palavras aos adeptos, porque sem eles não existia futebol! Neste discurso, reforçou valores fundamentais no desporto: respeito, compromisso, dedicação, disciplina, reconhecimento, cooperação, superação e esforço. Mais uma vez, conseguiu criar empatia entre todos e falou com sentimento. Fazendo um paralelismo entre a parte final do discurso de Toni para os jogos que vamos ter nesta semana, gostava que todos os intervenientes tivessem em conta aquilo que foi dito pelo ex-jogador e ex-treinador encarnado: os jogadores e treinadores nunca se devem esquecer que jogam para os adeptos. A responsabilidade que têm nos ombros é enorme pelos exemplos que dão aos mais novos dentro do relvado, pela paixão que criam nos aficionados ou pela alegria e tristeza que produzem nos amantes deste desporto magnífico. O que todos esperamos é que cada um lute pelo seu objetivo, com respeito, fair-play e dedicação máxima.

 

Marselha: má decisão!

O presidente da LPFP revelou esta semana que questionou se o Benfica queria adiar o jogo frente ao Moreirense para poder preparar a eliminatória da Liga Europa com mais tempo. Segundo Pedro Proença, os encarnados optaram por deixar tudo como está, ao contrário do que foi feito em França por PSG, Marselha e Lille. Sinceramente, não consigo perceber esta decisão por parte da estrutura encarnada. Analisando o contexto, o Benfica vai ter duas semanas muito duras: dois jogos com o Sporting, um com Marselha (em casa), recebe o Moreirense e vai a Marselha para a segunda mão da eliminatória. Os jogos com Sporting e Marselha (em casa) serão muito duros e irão provocar um enorme desgaste físico e mental. Por este motivo, e para ter tempo para preparar (estratégica e fisicamente) o jogo da segunda mão, o adiamento do desafio frente ao Moreirense parecia lógico. Se analisarmos os dois cenários percebemos que a decisão de adiar o jogo trazia benefícios ou, no limite, não penalizava em nada a preparação encarnada e os objetivos que está a disputar. Por outro lado, não adiar o jogo pode gerar um cansaço maior nos jogadores e fazer com que o treinador não tenha tempo para preparar devidamente o encontro fora, frente a uma equipa que vai descansar no fim de semana, que aposta as fichas todas na Liga Europa e que consegue criar um ambiente muito adverso aos adversários em sua casa. Assim, na minha opinião, o não adiar o jogo não traz nenhum benefício e, no limite, ainda pode prejudicar. Todos sabemos que o futebol é imprevisível e que todos os desfechos são possíveis. Neste caso, parece-me óbvio que o Benfica tinha tudo a ganhar com o adiamento do jogo frente ao Moreirense (que é um bom adversário) e que manter o calendário como está não acrescenta nada de positivo e até pode penalizar.