Quatro coisas preocupantes
Rui Barros e Sérgio Conceição
1 Não há no infinito mundo da bola quem não saiba do genuíno portismo dos técnicos Sérgio Conceição e Rui Barros, aliás ambos igualmente antigos futebolistas do FC Porto. Dito isto, tenha-se também presente que a militância clubística não deverá jamais ser considerada como requisito ou critério para a escolha de um treinador, pois que não é isso que faz dele um profissional mais competente. De resto, se assim não fosse o clube deveria escolher para o seu corpo técnico o associado Fernando Cerqueira, que anda há trinta anos a presidir a comissões de recandidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa à presidência.
2 Serve isto para questionar o seguinte: a equipa B do FC Porto está repleta de grandes jogadores, que até agora cumpriram um exemplar trajecto de sucesso. Mas não houve nem critério de coerência nem avaliação de mérito na definição de quem deveria ser o responsável pela continuação do seu desenvolvimento. O resto da história é bem conhecido: Mário Silva não só não ficou à frente da equipa B, solução que seria de elementar justiça, como teve de renunciar à continuação do trabalho até aí tão bem sucedido, deixando assim o clube. E Rui Barros lá continua. Só mais uma singela pergunta: desde que este deixou de jogar, há já duas décadas, que equipas dirigiu e com que resultados?
3 Quanto à situação de Sérgio Conceição, em nada coincide ou se assemelha esta com a de Rui Barros. Na verdade, o actual técnico já deu provas mais do que suficientes da sua capacidade. Mas subsistem quatro coisas que são assaz preocupantes: i) estando no comando técnico da formação principal pela terceira época consecutiva, parece óbvio que a equipa, em vez de crescer, tem descido de categoria de ano para ano; ii) há indícios claros - não digo certezas porque não frequento o Olival - de que se perdeu alguma da empatia entre o técnico e jogadores nucleares da equipa, do que terá resultado algum mal-estar no plantel; iii) Sérgio Conceição perde frequentemente o autocontrolo - e não há quem consiga encontrar a saída de um labirinto se estiver de cabeça perdida; iv) o treinador principal do FC Porto não pode ser um mero técnico. Porque quem dá a cara pelo clube tem de ser também um embaixador da instituição e o porta-voz de todos os adeptos. Em suma: o que se tem de esperar por parte de quem lidera o futebol do Dragão é que conquiste títulos, mas pondo a equipa a jogar bem e revelando novos talentos. Sem nunca se deixar abater pela pressão, mantendo a compostura em qualquer situação. Não é pedir de mais, pois não?
Nota - Este artigo foi escrito antes do jogo de Glasgow