Pontapé de Estugarda Quando a mostarda sobe ao nariz
Erros que se cometem sobre património gastronómico
A gastronomia está para os alemães como as peças de roupa estavam para Steve Jobs. Com tanta coisa para criar, pensar, executar e distribuir, tudo o que esteja fora deste universo criativo e produtivo é encarado como supérfluo. Se o pai da Apple na parte final da sua vida só se limitava a t-shirts pretas e jeans (estilo que viria a ser copiado por muitos CEO das tecnológicas) os germânicos não parecem querer ir além do básico no que toca a comer e beber, preferindo importar gosto e produtos de Itália ou França. Assim é com as águas sem gás ou com restaurantes.
Mas uma coisa é ter pouca variedade, outra é a forma como se trata o que é genuíno. As salsichas, por exemplo. Das mais simples às mais elaboradas, é um património intocável. E à medida que vamos conhecendo melhor os costumes locais, melhor percebemos certos códigos. Ou pelo menos achamos que sim. Um deles é recusar com algum cuidado mostarda como acompanhamento de duas peças daquelas made in Frankfurt.
Juro que não volto apenas a dizer que não, que numa próxima tento encontrar uma justificação: que sou alérgico, por exemplo. Só assim evitarei o olhar fulminante, carregado de crítica, da frau que estava na caixa do buffet self service. Não quer mostarda? Não, obrigado (segundos de pausa). Pode pagar aqui. Fiquei a pensar se não teria ferido o orgulho à senhora, como partir esparguete ou colocar ananás na piza em frente a um italiano. Como se a mostarda esteja para a salsicha como o azeite para o bacalhau cozido. Na próxima o melhor é aceitar, mesmo que fique na borda do prato. Ou então optar pela salada. É mais inteligente. Desde que não me perguntem se quero maionese.