Prova de maturidade
Clássico da Luz será um duro teste às capacidades do dragão de Vítor Bruno. Dores de crescimento persistem e isso não é um bom indicador. Ganhar na Luz seria um sinal de vitalidade. Sistema tácito é um espaço de opinião do jornalista Paulo Pinto
A revolução que sofreu o FC Porto a nível diretivo e técnico com as passagens de testemunhos de Pinto da Costa para André Villas-Boas e de Sérgio Conceição para Vítor Bruno, respetivamente, as expectativas em torno da equipa principal do FC Porto revelaram-se uma autêntica incógnita. Até ao momento, os dragões têm sido bipolares. Se no campeonato têm tido um desempenho meritório, estando nesta altura a apenas três pontos do Sporting, somando por vitórias todos os encontros, exceção feita à deslocação a Alvalade, já na Liga Europa as performances e os resultados têm ficado bastante aquém das expectativas para quem chegou a colocar a fasquia numa vitória na competição.
Vítor Bruno não se tem coibido — e voltou a fazê-lo na antevisão do clássico com o Benfica — que o FC Porto, fruto da muita juventude que reina no plantel, tem demonstrado dores de crescimento, mas o calendário exigente e apertado não permite grande tempo para se trabalhar as lacunas evidenciadas nos jogos. A solução é mesmo evoluir na própria competição e nesse aspeto a equipa demonstra melhorias em alguns jogos, mas depois tem retrocessos primários, como os golos que sofreu frente à Lazio, ambos nos períodos de compensação das duas partes.
Quando decidiu aceitar o repto lançado por André Villas-Boas para suceder a Sérgio Conceição sabia de antemão que lhe esperava uma tarefa hercúlea, muito por culpa do grande legado deixado pelo seu antecessor — o qual também ajudou muito a conquistar —, mas também face às contingências financeiras que a nova Administração encontrou e que não lhe permitiu investir no plantel tanto quanto os rivais Sporting e Benfica.
No universo azul e branco sabe-se, até por tudo o que resultou da mudança da equipa técnica e das eleições, que Vítor Bruno não colhe total simpatia dos adeptos, mas tem demonstrado trabalho e hoje tem pela frente uma verdadeira prova de fogo. Se no jogo de Alvalade apostou numa toada de expectativa a tentar surpreender o campeão nacional, o que estava a conseguir até Otávio vacilar e fazer um penálti disparatado sobre Gyokeres, hoje, na Luz, diante de uma equipa que mudou a sua matriz de jogo com o Bayern, o que provocou duras críticas a Bruno Lage, necessita de dar uma prova de maturidade, ao nível do que o FC Porto tem feito num passado recente no Estádio da Luz, jogando sem medo, olhos nos olhos, de forma compacta e sendo letal nos momentos decisivos.
Incutir o medo cénico na Luz
O medo cénico que o Benfica na maioria das vezes demonstra quando se desloca ao Estádio do Dragão tem se ser incutido também pelo FC Porto no Estádio da Luz. Estará a jovem equipa de Vítor Bruno já habilitada para cometer essa façanha nesta altura do campeonato? É uma questão pertinente e que só terá resposta mediante a forma como os dragões encararem o jogo. Não restam dúvidas de que esta época os resultados do confronto direito entre os candidatos serão determinantes nas contas finais do título e, por isso, a partida desta noite ganha contornos importantes para as cores azuis e brancas, tendo em conta a derrota já averbada em Alvalade. É, portanto, preciso uma prova de maturidade do renovado FC Porto para se afirmar de vez cá no burgo...