OPINIÃO Pote é azar, Jota não é sorte
Ir do futebol distrital à Seleção no espaço de cinco anos não é para qualquer um
Não será fácil gerir um plantel de 32 jogadores, mesmo tendo em conta que há dois jogos no programa, mas compreende-se que Roberto Martínez tenha incluído tantos nomes na última lista antes daquela que definirá a Seleção para o Campeonato da Europa de 2024. Se, por um lado, é a derradeira ocasião para fazer algumas experiências, por outro seria um erro desaproveitar a oportunidade para trabalhar mais alguns dias com o núcleo habitual da equipa das quinas, tão raros são agora os dias disponíveis para treinar.
A convocatória de Martínez para os jogos com Suécia e Eslovénia deixa claro que, se há alguma margem para surpresas, está no ataque, pois é no fim da lista que aparecem alguns nomes que fogem ao habitual. Francisco Trincão ainda está longe do potencial que possui, mas o regresso à Seleção, quatro anos depois, é um prémio justo para as exibições mais regulares que tem apresentado no Sporting, e que o têm colocado à frente de Marcus Edwards nas preferências de Rúben Amorim. O esquerdino, que em tempos encantou o Barcelona, soma sete golos e seis assistências na presente temporada, um registo próximo daquele que apresentou em Braga, antes da mudança para a Catalunha.
Francisco Conceição tem um perfil idêntico ao de Trincão, mas perante a decisão de alargar a lista, Roberto Martínez também não conseguiu ficar indiferente ao nível exibicional que o jogador do FC Porto tem apresentado, sobretudo desde que o pai apostou no 4x2x3x1. Essa mudança valorizou também Galeno, que provavelmente estaria na convocatória de Martínez, não tivesse o Brasil marcado posição a tempo, mas sobre a opção do jogador há pouco a dizer: estava habilitado a representar os dois países e fez a sua escolha, depois de ter conseguido que as exibições acelerassem as habituais abordagens nos bastidores.
Galeno está no seu direito e a Seleção tem opções mais do que suficientes para esquecer o tema. Infelizmente, uma delas ficou privada da possibilidade de figurar entre as novidades. Longa vai a espera de Pedro Gonçalves, que agora viu uma lesão arruinar o regresso à equipa das quinas, tão debatido nos últimos anos. Será um duro golpe para o jogador do Sporting, mas este tem mostrado ser um jogador bem resolvido quanto ao rumo da carreira, alheio aos ruídos que vão surgindo, e voltará rapidamente à discussão de um lugar na Seleção.
Independentemente de uma eventual relação com a indisponibilidade de Pedro Gonçalves, e até mesmo da circunstância de uma lista alargada, a chamada de Jota Silva é digna do maior destaque. Os doze golos e sete assistências não deixam dúvidas de que estamos perante uma das figuras da Liga e referência maior do Vitória de Guimarães, e é importante que a Seleção seja capaz de olhar para lá dos três grandes. Esses sinais positivos devem advir da meritocracia, mas no caso de Jota isso é inquestionável. Ir do futebol distrital à Seleção em cinco anos não é para qualquer um.