Portugal tem pouco tempo para perceber o que falhou - e primeiros sinais não são bons
Uma das primeiras justificações encontradas por Roberto Martínez para o desastre frente à Geórgia foi Portugal ter entrado «com pouca intensidade». E talvez isso me tenha preocupado ainda mais do que aquele sistema que parece muito rigoroso mas funciona à base da anarquia, ou do que ter jogadores com tão grande talento e criatividade presos a supostos conceitos de segurança, que na prática só têm mostrado uma Seleção com pânico da perda de bola e demasiado exposta aos erros. É que desconfio que mais ninguém além do selecionador tenha terminado o jogo e pensado de imediato: a Geórgia foi mais intensa do que Portugal (seja lá o que isso for). Dar os parabéns pela exibição à 74.ª classificada do ranking FIFA de seleções não pode ser suficiente, há que olhar bem para dentro e corrigir rapidamente esta atração por colocar um conjunto de bons jogadores a tentar fazer coisas que os tornam maus.
Muitas falhas individuais, mas também coletivas, nos dois lances que resultaram nos golos georgianos. Félix e Conceição ainda encarnaram a alma do talento lusitano, mas sem resultados reais. Conclusão: plano B falhou
No final, a autocrítica de Martínez acabou por limitar-se à «falta de definição perto da baliza» - quando me parece que o problema está em chegar perto dela -, mas mesmo aí também disse ter havido «uma exibição muito boa» do guarda-redes da Geórgia (não me lembro de nenhuma enorme defesa que tenha feito a diferença...). Isso e o penálti não assinalado sobre Cristiano Ronaldo, pois claro, não podia faltar... E não esquecer também o azar pelo golo cedo, que deixou os georgianos mais confortáveis num bloco baixo. Parece que estava tudo contra nós!
Resumidamente, o selecionador falou numa «mistura» de razões, mas não foi claro na resposta às perguntas bastante diretas dos jornalistas sobre a sua responsabilidade nesta derrota. Ficámos, então, sem saber se Roberto Martínez já percebeu o que correu mal contra a Geórgia (e a Chéquia, já agora), ou se a passagem aos oitavos de final será um voltar à estaca zero nas escolhas e decisões do selecionador. Gosto de treinadores que têm uma ideia e a defendem mesmo quando os resultados não a acompanham, mas tenho dificuldades em ver na cara de Ronaldo, Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Rúben Neves, Diogo Dalot, João Cancelo e muitos outros uma equipa que sabe o que está a fazer e, talvez ainda mais importante, que acredita nisso.
E se muitas vezes somos críticos com os adeptos portugueses - na vitória contra a Turquia éramos os maiores e agora já somos os piores?!? - devo sublinhar aqui a maturidade de uma grande maioria que não se atirou a António Silva por oferecer dois golos à Geórgia. Porque quando tudo e todos parecem incapazes, é só mais fácil e redutor destacar isso.
Médio português deixou palavras de conforto para o compatriota depois da exibição menos conseguida frente à Geórgia
Terminada a fase de grupos, a Seleção ainda não sabe como deve jogar e passa mais tempo preocupada com o que os outros podem fazer do que com o que sabemos fazer e não conseguimos. E se estes 90 minutos já não contavam para nada, pelo menos que servissem para se aprender com eles - o que duvido, tendo em conta esta análise no final.