Porto - factos e interpretações
Pepe viu vermelho direto (Miguel Nunes/ASF)

EDITORIAL Porto - factos e interpretações

OPINIÃO21.12.202309:04

Ver nas expulsões no FC Porto um inimigo externo, ou aceitar razões mais racionais

Depois da derrota em Alvalade, dois dados estatísticos e factuais foram divulgados pelos meios oficiais e oficiosos do FC Porto. O primeiro sublinhava algo a que Sérgio Conceição já se tinha referido: nesta temporada, a sua equipa ainda não conseguiu chegar ao fim de um clássico com onze jogadores em campo. Indo ao pormenor, se juntarmos os dois jogos com o Benfica e o jogo com o Sporting, o FC Porto - assinala a comunicação portista - jogou duas horas e meia apenas com dez jogadores.

O outro facto divulgado é que à décima quarta jornada os jogadores do FC Porto já viram mais cartões vermelhos do que em toda a época passada.

Trata-se de uma comunicação útil e profissionalmente dirigida. Para o adepto portista, estes factos apresentados em cima da derrota com o Sporting desfocam as causas reais e remetem para a perceção de que o FC Porto estará a ser prejudicado pela arbitragem e que essa é a primeira razão pela qual, desde há muitos e muitos anos, o FC Porto perdeu dois clássicos consecutivos para o campeonato.

Porém, os factos podem ter, obviamente, outras interpretações, qualquer delas mais racional e provável. A primeira é que o FC Porto tem pior equipa, também tem, indiscutivelmente, menos qualidade competitiva e, por isso, os seus jogadores veem-se obrigados a recorrer mais vezes a faltas e a ações punitivas; segundo, porque não há jogos iguais nem, muito menos, clássicos iguais, e a verdade é que este ano o FC Porto já perdeu duas vezes com o Benfica e uma com o Sporting, o que se pode considerar um padrão de diferença em relação ao passado recente; em terceiro lugar, há que admitir também a hipótese dos árbitros, sobretudo com o apoio mais efetivo do VAR, estarem a ser menos complacentes, ou mais rigorosos para com os jogadores do FC Porto, que, como é próprio da sua cultura e personalidade, vivem com agressividade competitiva e paixão cada momento do jogo.

Evidentemente que a comunicação, saída em tempo útil, tem a intenção óbvia de se tornar diretamente disponível aos seus adeptos, deixando subjacente que o atual terceiro lugar do FC Porto não é de responsabilidade própria. Mas se a arbitragem estivesse verdadeiramente em causa sobre a legitimidade de qualquer expulsão sabe-se que a mensagem seria outra.