Pinto da Costa: legado de títulos e dívidas
Ex-presidente vangloria-se dos troféus, mas devia corar de vergonha por deixar a Villas-Boas 200 milhões de euros para pagar entre fornecedores e empréstimos até junho passado. Sistema tácito é o artigo de opinião semanal do jornalista Paulo Pinto
O Relatório e Contas referente ao exercício 2023/2024 revela que a Administração liderada por Pinto da Costa deixou as finanças do FC Porto num verdadeiro pântano. André Villas-Boas teve de evitar o colapso financeiro, ao liquidar milhões de euros de dívidas antigas, empréstimos pagamentos de transações de futebolistas para cumprir os controlos trimestrais de fair-play financeiro da UEFA logo que tomou posse.
Não foram apenas os oito mil euros que Pinto da Costa deixou nos cofres da SAD. Foi muito mais do que isso. Deixou um acumulado de dívidas, um passivo enorme, fez negócios ruinosos como a operação cosmética da reavaliação do Estádio do Dragão para conseguir aumentar (ao máximo) os capitais próprios em vésperas das eleições.
Uma das primeiras batalhas alcançadas pela equipa de André Villas-Boas foi recuperar a credibilidade financeira juntos dos parceiros do FC Porto. O caminho foi desbravado, mas ainda há muita pedra por partir até à estabilidade tão almejada. Quando iniciou funções no dia 28 de maio, a atual Administração teve de cumprir compromissos imediatos de €12 milhões para liquidar até ao final desse mês, mais €16 milhões de dívidas vencidas a fornecedores correntes. Mas a gravidade da situação não se fica por aqui. As auditorias forenses que estão em marcha vão certamente revelar mais atropelos realizados nas últimas décadas, mormente na transação de jogadores e nas comissões pagas, muitas delas a empresários próximos do círculo pessoal do ex-líder.
Pinto da Costa tem revelado uma enorme amargura sobre aqueles que apelida de traidores, desde ex-jogadores, notabilizados pelos feitos históricos que conseguiram além-fronteiras, à atual Direção do FC Porto e tem disparado em todas as direções, demonstrando um rancor de larga escala. Pasme-se que até os jornalistas foram culpados pela copiosa derrota que teve nas urnas diante de André Villas-Boas. Além dos jornais, também as televisões têm culpa no cartório, mas não aquelas que sempre atacava e as quais agora fala sempre pudor para programas de jet-set.
Pinto da Costa ficará na memória de todos os portistas como o homem que guindou o emblema da cidade Invicta a um patamar de excelência, mas acaba por manchar a sua obra com uma despedida ferida de grande ressentimento e muito mágoa.
O livro que acaba de publicar é disso um grande exemplo, com excertos a atacar muitos daqueles que lhe foram fiéis. Que o diga Sérgio Conceição, também ele apontado como um dos responsáveis face à pressão exercida sobre a anterior Administração da SAD, o causador, na sua opinião, de um ato de gestão danosa pelas aquisições de Zé Luís (€ 12,2 milhõess com encargos adicionais) ao Spartak de Moscovo e Nakajima (12 milhões, 50 por cento do passe) ao Al Duhail, do Catar.
Pinto da Costa devia estar inteiramente grato a Sérgio Conceição por quebrar em 2017/2018 a hegemonia do Benfica, ao evitar o inédito pentacampeonato do rival da Luz, de ter feito campanhas notáveis na Champions e com isso feito entrar muitos milhões de euros nos cofres do clube, valorizando ativos, vendidos a peso de ouro a tubarões europeus. Perante tudo isto, a conclusão: Pinto da Costa esteve a uma reeleição de levar o FC Porto à ruína. Mas Villas-Boas mudou o rumo da história...