Petrobilionários sem hipocrisia
Jorge Jesus no Al Hilal (Imago)

OPINIÃO Petrobilionários sem hipocrisia

OPINIÃO29.02.202409:50

JJ tem desafios e um projeto mas não esconde o principal motivo para ter ido para a Arábia Saudita

Às vezes ouço jogadores na Europa a dizer que não compreendem porque é que os jogadores vêm para cá… porque vão ganhar mais dinheiro. E os jogadores que vão para Inglaterra? Vão de graça?
JORGE JESUS
Treinador do Al Hilal

Quando foi Cristiano Ronaldo, foi porque ninguém o queria. Quando se seguiram Benzema ou Firmino, foi porque era o novo el dorado para jogadores em fim de carreira. Quando a liga saudita enfim começou a convencer futebolistas no auge da carreira, como Rúben Neves ou Gabri Veiga, aí sim soaram os alarmes.

Esta semana, Jorge Jesus não esteve com hipocrisias — sim, só há uma razão para jogadores rumarem à Arábia Saudita: o dinheiro. Para muitos, três anos de contrato equivalem ao que ganhariam durante toda a carreira se ficassem na Europa, por isso não são apenas os veteranos que aceitam rumar ao Médio Oriente. E, como o treinador português — que já tinha estado na Arábia Saudita quando o país só criava petromilionários, em vez de petrobilionários... — lembrou, quem sonha ir jogar para Inglaterra fá-lo só pela competitividade do campeonato, mesmo que vá perder dinheiro?

Até haverá quem o faça — quem tem muito, quem não precisa, quem valoriza a vida fora do centro de treinos, quem acredita tanto em si próprio que acha que vai valorizar-se ainda mais e conseguir um contrato ainda melhor anos depois (nem que seja para a própria Arábia Saudita). É perfeitamente legítimo que um jogador recuse o Médio Oriente por princípios relacionados com os Direitos Humanos. Também é compreensível que haja quem ponha o dinheiro à frente de tudo o resto. O que me tira do sério é a hipocrisia de quem diz que foi para a Arábia «pelo desafio» ou «pelo projeto». Isso JJ não faz, por muito que vencer a Champions asiática ou jogar o Mundial de Clubes seja aliciante.