Pensar no futuro amanhã
Os jogos em Portugal são maus, mauzinhos, às vezes péssimos. Este ano, tirando a exceção nacional do V. Guimarães e a europeia do SC Braga, a qualidade exibicional dos restantes quase que roça o indigente. É triste, mas é verdade. A falta de dinheiro em relação aos grandes campeonatos europeus é uma parte da explicação, mas há outros que nada têm a ver com isso. O principal passa por muito poucos se preocuparem com uma estratégia global para o futebol nacional que terá de estar relacionada com a diminuição do fosso dos candidatos ao título para os restantes e isso apenas se fará caso os mais pequenos tenham direito a verbas mais simpáticas provenientes da TV. Há quatro/cinco anos perdeu-se uma oportunidade para que isso tivesse sido feito e a fatura chegou agora. Os grandes ficaram com as fatias de leão do bolo e os outros com as migalhas. Cavaram um fosso interno mas na Europa é o que se vê esta temporada, com o Benfica em dificuldades na Champions e o FC Porto a deslizar como há muito não deslizava na via uefeira - falo destes porque são os mais fortes concorrentes ao título. A Liga até pode ser mais ou menos competitiva, mas o ritmo e a intensidade são completamente diferentes para as principais europeias, pelo que as equipas portuguesas, quando chegam aos grandes palcos, padecem de um medo cénico que tanto pode ser suportado na consciências das suas dificuldades como na de enfrentar alguém que se não é melhor do que ele, pelo menos tem quase a mesma dimensão. No fundo, é como os adolescentes se sentem na fase da puberdade, com todos os fantasmas e sombras que lhes assolam a existência, olhando para um futuro incerto no qual, muitas vezes, não preferem pensar com grande profundidade. Mas não há volta a dar e têm de sair do armário. Tal como o futebol português. Têm de deixar de pensar no futuro amanhã. Porque quando chegarem ao futuro, se calhar, a vida e o sucesso já passaram. E ontem já era tarde.