Pelotões de fuzilamento
Roger Schmidt reage à contestação dos adeptos do Benfica depois do jogo com o Farense, no São Luís. Foto: Grafislab

Pelotões de fuzilamento

OPINIÃO25.04.202410:05

Quando Amorim acaba uma conferência ficamos com a sensação de que nada ficou por falar; no caso de Schmidt, ficamos com a sensação de que ficou tudo por contar

Depois de quatro meses e quatro dias, uma volta de campeonato, eliminações da Taça da Liga e da Taça de Portugal, afastamento das competições europeias e adeus praticamente consumado à renovação do título de campeão, Roger Schmidt voltou a sentir a ira de adeptos mais sensíveis ao mau desempenho da equipa.

É fácil concordar que os limites da liberdade de insatisfação são ultrapassados quando se insulta ou tenta agredir através do lançamento de objetos. Foi isso que aconteceu nos dois jogos do Benfica com o Farense e não é difícil perceber que as vítimas dessa ira possam ter sentido um apelo de reação de que, eventualmente, se tenham arrependido.

Schmidt pareceu caminhar, no São Luís, à frente de um pelotão de fuzilamento, indiferente ao resultado do jogo e só concentrado na missão de fazê-lo cair do Benfica. Mesmo desconhecendo o sentimento de todo os benfiquistas, pode arriscar-se dizer que não serão muitos os que se reveem naqueles comportamentos próprios de outras atividades, mas já é mais fácil identificar, avaliando por outras reações de descontentamento dentro do que podemos considerar aceitável e que devem ser respeitadas, que muitos querem ver o treinador pelas costas.

Sobre o trabalho do treinador, cada qual, entre os quais Rui Costa, fará a sua avaliação. E só o presidente do Benfica terá, depois, de tomar uma decisão. Evidente, nestes meses, foi a incapacidade de Schmidt comunicar. Quando uma conferência dele acaba, parece que ficou tudo por contar, como se cada oportunidade de falar com os benfiquistas, para esclarecer dúvidas, opções ou até estados de espírito, fosse menosprezada para atenuar a insatisfação e tivesse, nalguns casos, o efeito contrário de agravá-la.

É impossível ignorar, claro, que as circunstâncias são diferentes e que os resultados iniciais contribuíram para que cada palavra de Schmidt fosse música para os ouvidos dos benfiquistas.

Mas o treinador, neste contexto negativo, não pode encarar os encontros com os jornalistas como expediente burocrático. Só tem de aproveitar a comunicação para reconstruir pontes e fortalecer os laços emocionais com os adeptos.

E em Alvalade...

Rúben Amorim não só é um bom treinador como é muito hábil a usar a palavra. Quando acaba uma conferência de Imprensa, ficamos com a sensação de que nada ficou por contar, que foi sincero nas respostas, por aceitar o contraditório e não deixar uma pergunta sem resposta. Alimentou demasiado tempo o assunto da possível saída e, salvo tenha ido a Londres fazer compras aos armazéns da Harrods, foi falar com o West Ham, depois de dizer que não iria falar com qualquer clube.

Logo um pelotão de fuzilamento, nas redes sociais, disparou todas as munições das críticas negativas, ignorando a realidade — qualquer clube ou treinador prepara o futuro antes dos finais das épocas. Também Rúben Amorim precisará, agora, quando falar aos adeptos, de aproveitar a oportunidade para reconstruir pontes e fortalecer laços emocionais. Quem sabe se, para lá de ficar em Alvalade, não renovará o contrato.