Patrício
Rui Patrício tem muito em comum com Vítor Baía. Tanto um como o outro conseguiram criar uma relação ao nível do religioso com os respetivos adeptos. Nas Antas, era comum ouvir-se um Baíaaaaa a cada bola colocada na área. Ele saía dos postes, agarrava a bola, o perigo passava. Aquele grito em forma de culto misturava súplica com garantia prévia: a de que estaria tudo bem. E estava. Com o guardião leonino passa-se um fenómeno semelhante em Alvalade, mas só depois do problema resolvido. Quando se escuta um Ruuiiiiii, é porque mais uma vez o dono da baliza foi decisivo. Como no último derby.
Ao contrário do antigo dono da baliza do FC Porto, que ainda não tinha barba e já era o eleito, Patrício foi um processo em construção. Venceu a desconfiança que durou alguns anos e calou as críticas dos próprios adeptos a cada erro que dava. Nos últimos três/quatro anos, depurou defeitos (saídas a cruzamentos e jogo de pés) e tornou-se um guardião completo. O trabalho mental a que se submeteu (o próprio confidenciou-o várias vezes) trouxe-lhe ainda outra característica fundamental para a função: corre-lhe gelo nas veias. Já não treme. Lembram-se de Paris?
Na Seleção é o segundo jogador mais importante a seguir a Cristiano Ronaldo; no panorama internacional são muito poucos os que estão por cima dele na atualidade (deixemos Neuer de fora porque não joga há oito meses): Oblak, De Gea, Alisson, Ederson e Courtois. Está na linha de Buffon (o quarentão), Donnarumma (o atual, porque no futuro será gigantesco) e Ter Stegen.
Diria mesmo que o Nápoles, apesar do estatuto que readquiriu, será de menos para ele. Mas a transferência (a confirmar-se) representará um marco: saem muitos jogadores de campo portugueses para os grandes clubes europeus, mas poucos guarda-redes para o cargo de n.º 1. Vítor Baía (o melhor de todos) foi a exceção mas a experiência no Barcelona não foi proporcional à excelência das suas luvas. Será Patrício o tal?