Opinião Opinião de João Bonzinho: «Tudo vale a pena se a alma não é pequena!»
Ao contrário da chegada do Homem à Lua, não se tratou, evidentemente, esta presença portuguesa no Campeonato do Mundo de um pequeno passo para a (gigante!) Seleção feminina, mas o exemplo deixado na Nova Zelândia foi seguramente um grande passo para o futuro do futebol jogado em Portugal por mulheres.
Creio, e espero, que a partir de agora nada mais seja como dantes e os portugueses possam, por fim, olhar para o futebol no feminino pela exata perspetiva que ele justifica e merece.
Pode o País, agora, apesar da esperada não qualificação para os oitavos de final da competição, lançar várias equações perante os bons resultados obtidos pela equipa nacional na primeira vez que concorreu a um Campeonato do Mundo. A dimensão do que fica é muito maior, ainda assim, do que aquilo que se viu em campo. E aquilo que se viu em campo foi enorme.
Seja pela surpreendente qualidade do futebol apresentado, seja pela capacidade competitiva, seja pela força e espírito revelados diante de adversárias tão poderosas como as holandesas (atuais vice-campeãs do mundo!!!) ou norte-americanas (atuais campeãs do mundo!!!), que levam décadas de avanço no desafio de tornar o futebol jogado por mulheres proporcionalmente tão forte e competitivo como o jogado por homens – nos Estados Unidos, aliás, o futebol, ou soccer, como lhe chamam, é já mais influente entre as mulheres do que entre os homens -, a presença de Portugal neste primeiro Mundial deve tornar-se decisivo (assim se deseja) para acordar de vez o País para uma realidade incontornável, pelo direito à igualdade, e profundamente afirmativa, sobretudo pelo exemplo.
Seja qual for o ponto de vista pelo qual se observe a presença, o jogo e os resultados da equipa nacional feminina neste Campeonato do Mundo de estreia, há um que me parece absolutamente relevante e tem que ver com o caráter, espírito, combatividade, cumplicidade e imagem de verdadeira equipa como a que pudemos testemunhar, particularmente na manhã de ontem, em todos os momentos do desafio frente à equipa campeã do mundo, do hino nacional ao jogo e do jogo às lágrimas pelo insucesso que, apesar de tudo, julgo que as portuguesas não mereciam.
Não valerá a pena entrar em comparações, nem é o que se pretende, mas o que a Seleção Nacional feminina mostrou neste Mundial foi, também, outro grande exemplo de paixão, entrega e determinação na defesa de uma equipa, de um objetivo e de uma bandeira, à semelhança, é justo dizê-lo, do que sempre vimos noutras representações coletivas portuguesas em grandes eventos desportivos internacionais, nomeadamente de modalidades com menor expressão (mas não menor relevância) e, por isso, menor visibilidade (mas não menor orgulho).
O futebol profissional masculino ao mais alto nível, de tão industrializado e economicamente de tão dimensionado e amplificado que está, corre o risco de ir perdendo parte significativa dos valores que devem alimentar sobretudo as equipas que representem o País, por serem essas as que expressam, mais intensamente, identidade e cultura.
Se a Seleção masculina pode, do ponto de vista emocional, (re)aprender alguma coisa ainda com os melhores exemplos dados pela Seleção feminina é, talvez sobretudo, o sentimento de orgulho por devolver ao jogo a melhor honra de o jogar e o entusiasmo, destemor e integridade por desafiar o destino e representar Portugal.
Como tão bem definiu Pessoa pela palavra escrita, tudo vale (verdadeiramente) a pena se a alma não é pequena!