Onde já vais tu, Mourinho!
Mourinho vai treinar o Fenerbahçe (IMAGO / Vlad Suheschi)

Onde já vais tu, Mourinho!

OPINIÃO02.06.202410:00

Como o ‘Special One’ se deixou chegar até aqui, quando já só na Turquia despertará interesse?

José Mourinho já foi o melhor treinador do planeta e ganhou várias páginas sobre si na história do jogo. Foi um novo Brian Clough, uma rockstar que dava concertos no banco e na sala de Imprensa, assinou feitos impensáveis e revolucionou vários aspetos da modalidade. Que quem o vê hoje e não revê no tipo de futebol e nos resultados o Special One não se engane. Foi gigante. Foi, sim, infelizmente. No passado.

Nunca me irei cansar de repeti-lo. Mourinho tocou mesmo no céu. Depois, ao mesmo tempo que Messi e Ronaldo andavam a embirrar um com o outro, em duelos sucessivos, sobre quem era o melhor, manteve-se na luta com um Guardiola de quem era impossível não gostar e, por oposição, encarnou o Lado Negro da Força. Ainda ganhou como gangster, derrubando a melhor equipa da história, porém começou a ver fantasmas, a cera foi derretendo e caiu. Ainda se agarrou aqui e ali, e tentou retomar o voo, mas cada vez ganhava menos altura e ficava ainda mais longe.

Não me interpretem mal. É bom termos a capacidade de rirmos de nós próprios, todavia aquele anúncio – e uma equipa para treinar? -, apesar de poder valer uma boa maquia, era evitável, porque, infelizmente, parecia refletir a realidade. Bayern, Liverpool e Barcelona mudaram de treinador, Chelsea irá anunciar em breve o sucessor, tal como Milan e Juventus. Manchester United ainda pode despedir Ten Hag. Noutros tempos, Mourinho acabaria num destes destinos, mesmo que se tratasse de um regresso. Desta vez, apenas em Munique se falou vagamente no seu nome e acabou por ser Vincent Kompany, um Guardiola wannabe que desceu o Burnley, a ganhar a corrida.

O português deixou de apontar a esse patamar e a aceitar clubes que, noutros tempos, nem sequer com ele poderiam sonhar. Foi o Tottenham, depois a Roma. Mais do que ter baixado a fasquia, não deu sobretudo mostras de ser capaz de se reinventar. De voltar a ser aquela força da natureza do Porto e de Londres. Continuou defensivo e cínico em campo, os jogadores deixaram de acreditar que, com ele ao leme, eram mesmo melhores do que os outros. Nunca deixou o lado negro. Ganhou uma Liga Europa e uma Liga Conferência, e foi a uma outra final, porém já todos tinham percebido que perdera o toque de Midas, que só por si não é garantia de sucesso.

Havia quem acreditasse que poderia substituir Roger Schmidt no Benfica – o que nunca pareceu interessante do ponto de vista do Terceiro Anel, que gosta de ver a sua equipa a atacar e a dominar os jogos –, mas Rui Costa preferiu manter o alemão. Admito que uma das razões possa ter sido financeira, de muitos milhões distribuídos por despedimento e contratação –, porém também faltava a tal garantia de que correria bem.

Segue-se o Fenerbahçe, um destino inimaginável para o seu estatuto, contudo mais uma oportunidade para se reinventar. Assalta-me, no entanto, uma pergunta que não consigo parar de fazer a mim próprio. Como é que alguém que foi dono disto tudo e tem um QI acima de tanta gente se deixou chegar até aqui?