Obrigado, Espanha
Luis De la Fuente construiu uma equipa de autor. Foto: Imago

Obrigado, Espanha

OPINIÃO18.07.202407:00

Luis De la Fuente defendeu uma ideia e ganhou. Uma equipa a fazer lembrar o Sporting de Amorim e o FC Porto de Mourinho

Grande vitória da Espanha no Euro. Campeão da Europa com toda a justiça, com sete vitórias em sete jogos e diante de adversários do calibre de Croácia, Itália, Alemanha, França e Inglaterra. Melhor era difícil. Confesso que a Espanha não era uma das minhas favoritas a vencer o Euro. Coloquei numa primeira linha França, Inglaterra e… Portugal, pelo que só faltou à La Roja vencer a Seleção Nacional. Isto tudo antes de 14 de junho.

Vi o primeiro jogo da Espanha, com a Croácia, e logo constatei que estava ali um candidato ao título. Confirmou-se. A Espanha foi sempre a melhor seleção. A que melhor futebol apresentou, a que melhores espetáculos proporcionou. A mais alegre e irreverente. É uma equipa de autor. Luis De la Fuente chegou ao topo aos 63 anos, depois de um longo percurso nas seleções jovens. Depois dos títulos europeus de sub-19 e sub-21, conquistou a Liga das Nações e agora viu consagrada a sua ideia de jogo.

O basco apostou nos jovens e ganhou. Ganhou porque defendeu uma ideia e fez os jogadores acreditarem nela. Simplificou os processos e escolheu os jogadores que considerou mais adequados para os interpretar. Salvaguardadas as devidas distâncias, esta seleção espanhola fez-me lembrar o Sporting de Rúben Amorim e o FC Porto de José Mourinho. O Sporting pela fome — expressão até muito utilizada por Amorim — que os jogadores demonstraram, jogando sempre nos limites, com alegria, como se cada jogo fosse uma final e pela disciplina que a equipa apresentou. Todos, individualmente, sabiam bem o que tinham de fazer para que o coletivo funcionasse. Como, por exemplo, Dani Olmo que começou como suplente de Pedri e acabou como um dos melhores jogadores do torneio. Ou Oyarzabal que partiu sempre como alternativa a Morata e ficou na história como o homem do golo do título.

Para Luis de la Fuente sempre se percebeu que não havia vacas sagradas, ninguém está acima da equipa. Não há estrelas, todos são iguais, ou melhor sempre fiquei com a sensação que ninguém se sentia superior a ninguém. Um bom exemplo disso foi o à-vontade com que Zubimendi entrou ao intervalo do jogo para o lugar de Rodri, o melhor jogador do Europeu. A fazer lembrar a revolução que Mourinho operou no FC Porto antes de levar os dragões à conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões, reforçando-se no Vitória de Setúbal ou no União de Leiria.

De la Fuente descomplicou um bocadinho o futebol e isso também me deixou feliz. A seleção espanhola abriu sempre as portas à imprensa, os jogadores e o próprio treinador surgiam todos os dias nas redes sociais, divertindo-se fora e dentro de campo. Sem fantasmas. Depois também fiquei rendido àquele 4x3x3 bem agressivo, alegre, ofensivo e disciplinado, bem distante do da escola Barcelona, com um meio-campo à FC Porto, com um 6 (Costinha/Rodri), um 8 (Maniche/Fabián Ruiz) e um 10 (Deco/Dani Olmo). Simples. Obrigado, Espanha.