O verdadeiro edifício do futebol português não tem a mão de Proença

OPINIÃO10:30

Liga inaugurou sede que terá custado 18 milhões de euros e foi construída enquanto equipas se debatiam com uma possível insolvência e ficavam impedidas de inscrever jogadores

Portugal é um país tão influenciado pelo populismo como qualquer outro. É tão viciado em propaganda e tão dirigido em sua função como os demais. Reparem. Não somos diferentes dos outros. Apercebemo-nos da importância da perceção e da imagem, que ainda mais força têm, infelizmente, num pobre país maioritariamente pouco culto e, como tal, desprovido de sentido crítico, e profissionalizámo-nos e tornámo-nos especialistas. No entanto, apesar dessa propaganda tão bem distribuída, tão aprumada e aparentemente inofensiva, parece-me difícil que a maioria de nós acredite que o novo edifício-sede da Liga Portugal, que custou qualquer coisa como 18 milhões de euros, represente o único e verdadeiro edifício que nos deveria realmente interessar, o do futebol português.

A ostentação é absurda e inútil. Na verdade, o futebol reflete a sociedade e a nossa é pouco mais do que uma sociedade de inútil ostentação. Entendo também a ligação imediata, ainda antes de ser eleito para a Federação, que Valentim Loureiro fez entre Pedro Proença e a FIFA, onde pouco mais interessa do que o enriquecimento próprio. Aliás, não estará isso mais do que evidente no enésimo esquecimento da defesa dos direitos humanos por parte do organismo, ao atribuir a organização do Campeonato do Mundo de 2034 à Arábia Saudita?

Não se estranha por isso que num líder em que os principais feitos são a sustentabilidade financeira da Liga, com lucro em anos sucessivos, o apoio quase unânime dos clubes profissionais à sua gestão – transferindo-o agora para a corrida à Cidade do Futebol – e a inauguração da nova sede, se fale numa gestão para dentro, empresarial, a pensar no lucro, e não para fora, para os membros ou para o produto que o representa. Faz sentido para um administrador de insolvências.

Proença parece ter caminho aberto para a cadeira de sonho. Há quem ache bem, eu só digo que não será por mérito nas verdadeiras causas do organismo a que preside.

É natural, parece-me, que os clubes estejam do seu lado. A vigilância não está mais apertada, a Liga entende que não existe para desafiar, exigir, fazer subir a fasquia e a competitividade, mas sim para manter o status quo. Os clubes começam por apresentar prova dos pré-requisitos, porém pouco meses depois já estão perante cenários de insolvência. E enquanto se constrói uma sede de muitos milhões, há emblemas que não conseguem inscrever jogadores ou pagar ordenados dos que já têm. Se o filtro apertar, vários ficarão sem hipótese de continuar no primeiro escalão e há casos em que seria esse o princípio do fim. Também é lógico que, na ausência de decisões de rotura, os grandes não se sintam ameaçados – a não ser o Benfica na centralização de direitos –, e ao mesmo tempo vislumbrem ali, de certa forma, uma imparcialidade que se torna bênção ou mal menor, se lembrarmos os anos 80 e 90.

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Chegado ao poder em 2015, e mesmo com a Covid-19 como grande adversidade durante o mandato, Pedro Proença não conseguiu fechar uma sequer das questões consideradas estruturais para a melhoria do futebol português: a centralização dos direitos televisivos, prevista para 2028/29, continua a encerrar inúmeras dúvidas, não só pelo valor da avaliação do produto – a Primeira Liga – mas também pelos sinais vindos de França nesta temporada e pela incapacidade de, com a data a ficar cada vez mais próxima, manter todos no mesmo barco, sobretudo os encarnados, que sentem que poderão ficar a perder.

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12 dezembro 2024, 10:00

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A candidatura que começou por ser ibérica tornou-se mediterrânica e depois transatlântica. Talvez vá ser giro, mas saberá a pouco para todos, menos talvez para os espanhóis... e para os sauditas

Recordemos então o que se passou no futebol gaulês. A Liga (LFP) aspirava inicialmente a mil milhões de euros por temporada, mas, após longas negociações, assinou um acordo de 500 milhões anuais com DAZN e beIN Sports até 2029. A primeira, responsável por transmitir oito jogos por jornada, projetava alcançar 1,5 milhões de assinantes, mas ficou-se pelos 100 mil, gerando preocupações sobre a viabilidade do acordo. Além disso, a segunda, detentora dos direitos de um jogo por jornada, não efetuou o primeiro pagamento de 100 milhões de euros, aguardando maior promoção por parte da LFP. Surgiu o caos. Terá pelo menos feito Proença pensar?

«Nenhum clube vale mais do que toda a Liga», já disse o responsável, havendo também a pressão do Governo a pairar sobre a Luz. Todavia, o impasse parece persistir. Além disso, se a promessa é que os mais ricos não irão perder dinheiro e que os pobres vão sê-lo bem menos esta conseguirá, só por si, reequilibrar um campeonato cada vez menos competitivo?

O grande trambolhão de Varandas

8 dezembro 2024, 10:00

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Presidente leonino não conseguiu juntar à continuidade de Amorim por mais uns jogos um mais maturado processo de seleção do seu substituto e as consequências estão à vista

Uma das razões para o desinteresse no produto – Portugal perdeu nos últimos meses expressão nos canais internacionais – terá que ver tanto com as cadeiras vazias nos estádios como com a pobreza do futebol praticado. Não se veem porém estratégias eficazes por parte da Liga para atrair mais adeptos, como melhorias na experiência da ida ao estádio ou maior dinamismo na promoção de jogos menos mediáticos, através de políticas de bilhética mais acessíveis ou parcerias locais que aproximem as equipas das comunidades.

Foi ainda no tempo de Proença que Portugal perdeu para os Países Baixos o sexto lugar do Ranking UEFA, ou seja, uma entrada direta na Liga dos Campeões e ainda uma sexta vaga em geral. Na altura, o organismo queixou-se de os pontos da Liga Conferência valerem o mesmo dos conquistados na Champions, mas esta época têm sido esses mesmos pontos, averbados por um brilhante Vitória de Guimarães, a permitir a reaproximação a esse degrau. Com Proença e companhia agora em silêncio.

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6 dezembro 2024, 10:00

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Português evitou duas vezes a implosão do Botafogo, a primeira na visita ao Palmeiras, que pode valer o primeiro título em 29 anos, e na final da Libertadores, ao ficar reduzido a 10 jogadores

Também não foi graças à sua ação que o constante ruído em torno das arbitragem mudou. Não sendo tema fácil de resolver, mesmo para um ex-árbitro, a verdade é que pouco ou nada se alterou. Mesmo o ambiente mais saudável no início desta temporada prendeu-se sobretudo com a mudança dos atores, especialmente no FC Porto, já depois do registo diferente trazido por Amorim para o Sporting. Contudo, já surgem aqui e ali indícios, mesmo na Invicta, de que essa abordagem não se irá prolongar. Afinal, é só a mais velha desculpa do mundo no futebol.

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Jovem treinador do Sporting saiu pior da conferência de Imprensa de quarta-feira do que estava quando nesta entrou. Há sinais de alerta a chegar de Alvalade e só as vitórias os podem maquilhar

Apesar de tudo, Proença parece ter caminho aberto para a cadeira de sonho. Há quem ache bem, eu só digo que não será por mérito nas verdadeiras causas do organismo a que preside.