O valor de 'decidir em casa'
Palmeiras de Abel Ferreira foi eliminado pelo Flamengo de Tite na Copa do Brasil, mesmo com a segunda mão em casa. Foto CESAR GRECO/PALMEIRAS

O valor de 'decidir em casa'

OPINIÃO10.08.202408:30

Jogar a segunda mão perante o próprio público é visto no Brasil como uma supervantagem – será mesmo? JAM Sessions, o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira

SÃO PAULO — Numa eliminatória a duas mãos, é melhor jogar primeiro em casa? Ou começar fora? É provável que a maioria dos adeptos portugueses (e europeus em geral) opte pela última hipótese, até porque, racionalmente falando, ser dono de casa na segunda mão pode garantir mais tempo nessa condição, caso o duelo precise de 30 minutos de prolongamento e ainda de penáltis.

E, emocionalmente falando, ser anfitrião da segunda metade de um desafio de 180 minutos transmite mesmo uma sensação mais confortável do que o inverso: depois de suportar os 90’ supostamente mais difíceis, ainda há os 90’ supostamente mais fáceis.

Entretanto, no Brasil (e talvez na América do Sul em geral) jogar em casa é considerado, racional e emocionalmente, um caso tão sério que merece um sorteio à parte tão ou mais relevante para a torcida quanto o sorteio em que é conhecido o rival. ‘O clube x decide em casa’ justifica um título, uma manchete, como se jogar a segunda mão no estádio a que se está mais habituado valesse, desde logo, um golo.

Mas será? O melhor é parar de papo e ir diretamente às estatísticas feitas por quem sabe.

Depois de analisar 392 duelos de 14 épocas da Taça dos Libertadores da América e da Liga dos Campeões, o especialista em ciência de dados Daniel Takata concluiu, no portal UOL, que em 59 por cento das ocasiões o clube que joga a segunda partida em casa, de facto, apura-se. Mas calma que a resposta ainda não está dada.

Como bom matemático, Takata dividiu os dados por fases da competição porque, muitas vezes, com base no regulamento, nos oitavos de final as equipas que tiveram melhor desempenho na fase de grupos jogam o segundo encontro em casa e, por isso, em tese, apresentam uma superioridade natural. E, com efeito, em 62 por cento dos oitavos de final ganha quem joga a segunda mão fora.

Nos quartos de final o registo é, outra vez, de 62 por cento, mas nas meias-finais, quando teoricamente os confrontos são mais equilibrados, a situação inverte-se: em 61 por cento dos casos, jogar em casa primeiro resulta em apuramento.

O dado é corroborado pelas finais, sempre a duas mãos, da Copa do Brasil: apesar de os adeptos intuírem o contrário, em 19 das 35 decisões (54 por cento) ganhou quem começou por ser o anfitrião.

Aliás, na madrugada de quinta-feira, os três treinadores portugueses em atividade nos oitavos da edição deste ano da prova acabaram todos eliminados – e dois decidiram em casa.

A conclusão, portanto, é que não há conclusão. E é por ter poucas ou nenhumas conclusões que o futebol é um (apaixonante) livro em aberto.

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