O último troféu de Pinto da Costa
Pinto da Costa despediu-se com mais uma Taça de Portugal (Foto IMAGO)
Foto: IMAGO

O último troféu de Pinto da Costa

OPINIÃO03.06.202410:00

O último jogo da vida de Pinto da Costa enquanto presidente do FC Porto acabou como tantos outros ao longo da sua carreira: com uma vitória na final da Taça de Portugal frente ao Sporting. Uma tarde de emoções que só não foram mais intensas porque a justiça desportiva e o Tribunal não permitiram que o agora ex-presidente fosse para o banco de suplentes. A razão?   

Recuemos ao FC Porto – Gil Vicente onde Pinto da Costa falou sobre o árbitro desse jogo: «já no ano passado com o Gil nos fez perder um campeonato; não se pode falsear resultados como aconteceu hoje (…). O FC Porto tem sido vergonhosamente prejudicado, sobretudo pelos VAR (...).» Disse o que sentia e o Conselho de Disciplina da FPF também, já que considerou que tais comentários implicavam um juízo de valor negativo quanto a arbitragem e que constituíam difamação: «O que já não se pode permitir, sendo por isso proibido, é concluir-se que tais, alegados, erros decorrem de uma intenção (...) ou vontade dos diversos elementos da arbitragem de prejudicar a equipa do arguido (...)». «É esta intenção e esta relação de causalidade (...) entre os alegados erros e um propósito de prejudicar a equipa que conduzem à esfera do proibido».  

E como os comentários foram difamatórios, na opinião do Conselho de Disciplina, Pinto da Costa foi suspenso 35 dias, com uma multa de 5.610 euros.  Difamação é, segundo o Art.º 112 do Regulamento Disciplinar da Liga, «usar expressões (...) injuriosas, difamatórias ou grosseiras».  Pinto da Costa recorreu, primeiro para o plenário do Conselho de Disciplina, que reconfirmou a decisão, e depois, a 14 de maio, para o Tribunal Administrativo do Sul. O recurso teria a intenção de suspender os efeitos da decisão do Conselho de Disciplina e permitir que a suspensão de 35 dias fosse cumprida já depois do final da Taça de Portugal. Objetivo? Que o presidente se pudesse sentar no banco de suplentes do FC Porto. 

 Este expediente é frequentemente usado apenas com o objetivo de atrasar o cumprimento da pena. Só que desta vez o Tribunal decidiu em três dias e recusou a providencia cautelar, embora tenha dado alguma razão ao presidente aceitando o receio fundado de lesão grave da liberdade de expressão de Pinto da Costa. Em suma, Pinto da Costa não teve direito a um último desejo, mas levantou a Taça. Melhor era impossível. Uma nota para o Sporting que demonstrou um enorme desportivismo ao fazer guarda de honra ao vencedor – algo nunca visto entre os clubes grandes. Um gesto saudado ainda em campo pela equipa portista e que possibilitou encerrar a época com uma elevação pouco normal no futebol português. Diga-me, caro leitor, algo está a mudar?

Quem também não continua no FC Porto é Sérgio Conceição. Renovou a dois dias das eleições e agora vai sair. Não sabemos, ainda, de quem partiu a decisão, mas é uma saída a custo zero. Isto aconteceu, segundo os media, porque o contrato assinado, embora válido, permitia a qualquer das partes rescindir sem custos caso Pinto da Costa não fosse reeleito. E não foi.

Mas o Direito ao Golo vai, precisamente, para Sérgio Conceição. Venceu 11 troféus, é um dos grandes treinadores da Europa, mereceu todo o sucesso alcançado. Passa muitas vezes dos limites, como assume, mas com certeza continuará a vencer, a ser genuíno. E para Fernando Pimenta que com muitas remadas fortes teve direito a um “hat-trick dos ouros” na Taça do Mundo de Canoagem.