O segredo inglês está bem à vista
«Lá, onde a coruja dorme», a opinião de Luís Mateus
Grande parte do sucesso do futebol inglês depende da cultura do país. Não, não me esqueci da palavra desportiva. Esta será o reflexo da outra. O desporto não é mais do que um espelho da sociedade. A nossa está doente e é normal que o futebol, a única modalidade que parece interessar às pessoas (o que até, por outro lado, permite fenómenos apaixonantes ou de carolice em outras), também não perca este ar macilento, quase tuberculoso. A inglesa é bem mais civilizada e organizada e, como tal, o jogo no Reino Unido também o é. Parece simples. Para quem o quer ver.
Não quer isto dizer que não existam problemas. Claro que há. Durante várias décadas até ao início dos anos 90, Inglaterra tinha dois grandes dilemas, não necessariamente relacionados: um deles era o hooliganismo e outro a insistência no peão, que levou a algumas tragédias como Hillsborough.
As câmaras de vigilância dentro e na periferia dos estádios e as pesadas penas de prisão efetiva resolveram o primeiro, as bancadas totalmente cobertas com assentos e, como tal, também menos lotadas, o segundo. A Premier League não podia ser o que é sem isto, que obviamente protege o produto, e também sem algo não menos importante: os ingleses, quando precisam de resolver uma coisa, resolvem-na. Sentam-se, falam, entendem-se e resolvem-na. Por cá, nada é decidido, seja a justiça ou o local de um aeroporto, e nem se chegam a copiar os bons exemplos.
Assisti em Anfield ao Liverpool-Manchester United, o maior clássico do futebol britânico, e apesar de um tenso e dececionante 0-0 para os da casa não ouvi um único assobio a um jogador, mesmo que estivesse a jogar mal. Claro que não entrou uma única tocha nas bancadas - porque será? - e à exceção de uma discussão breve mais acesa, os jogadores respeitaram-se em campo. A diferença é cada vez maior para o Terceiro Mundo.