Bruno Lage no Casa Pia-Benfica
Bruno Lage no Casa Pia-Benfica. Foto: Miguel Nunes

OPINIÃO DE DIOGO LUÍS O que está em jogo até final da época?

OPINIÃO26.01.202509:20

'Mercado de valores' é o espaço de opinião semanal de Diogo Luís

Esta tem sido uma época atípica. Não me lembro de outra temporada em que as equipas que costumam lutar pelos quatro primeiros lugares da tabela classificativa tenham trocado de treinador na primeira metade da época. O mais incrível é que fora do relvado todos têm cometido erros que têm influência dentro das quatro linhas. Olhando para a frente, arrisco-me a dizer que o vencedor da Liga deste ano será o menos mau e não o melhor!

Quem equilibrou o campeonato?

A saída de Ruben Amorim expôs as fragilidades de uma estrutura que estava dependente do seu treinador. Acredito que se Ruben Amorim tivesse ficado, ao dia de hoje, o Sporting já estaria com uma vantagem pontual muito confortável para revalidar o título.

Baseio esta opinião em factos. O Sporting jogava um futebol atrativo, aglutinador e intenso. Não dava hipóteses aos adversários. A pressão sobre os rivais era enorme, porque estes percebiam que tinham poucas hipóteses de contrariar a onda verde que estava instalada.

Com a saída do jovem técnico para Inglaterra o campeonato ficou mais equilibrado. Ao apostar em João Pereira sem uma lógica ou racional aparentes, Frederico Varandas deu oxigénio aos rivais e reabriu a luta pelo título. Percebendo o seu erro, o presidente leonino deu um passo atrás e trocou de treinador.

Com Rui Borges já vemos os jogadores mais perto do seu valor. Ainda não é uma equipa equilibrada, sobretudo nas transições defensivas. Rui Borges teve o mérito de recuperar os jogadores animicamente e de voltar a fazer acreditar a nação sportinguista. Os reforços Morita, Bragança e Pote serão um trunfo importante para o treinador leonino.

Erro de comunicação

André Villas-Boas assumiu a presidência do FC Porto em maio. Quarenta anos depois o clube trocou de presidente.

Uma transição destas é sempre complicada, sobretudo no contexto em que Pinto da Costa e seus pares deixaram o clube. As dívidas e os compromissos financeiros são enormes, sendo que muitas das receitas já estavam antecipadas.

A nova administração, nestes primeiros meses, tinha uma tarefa muito complicada. A primeira missão foi a de recuperar a credibilidade no mercado e mostrar que a atual gestão nada tem a ver com o passado. A transparência e profissionalismo são as palavras que melhor definem a nova administração, em contraponto com a opacidade e conflitos de interesse que existiam anteriormente.

A segunda missão era fazer com que todos os associados percebessem que têm o mesmo valor e que são necessários. Para isso, cortaram-se regalias e poder que um restrito número de adeptos tinha dentro do clube, nomeadamente a claque.

A terceira missão, e talvez a mais difícil, foi a de criar um plantel em tempo recorde e com tantas limitações financeiras. O caminho escolhido foi o possível tendo em conta as circunstâncias. Optou-se por um plantel jovem, com jogadores que têm potencial desportivo e financeiro.

Em minha opinião o grande erro estratégico de André Villas-Boas foi o de anunciar que criou um plantel para ser campeão. Analisando os plantéis dos três grandes, percebemos claramente que as soluções e qualidade de Benfica e Sporting são superiores. No caso do Porto não só tem menos qualidade como menos experiência. Ao referir publicamente que o Porto criou um plantel para vencer o campeonato e a Liga Europa, o que o presidente do Porto fez foi aumentar a pressão em jogadores pouco experientes e gerar uma expetativa pouco racional nos adeptos. Esta expetativa torna-se ainda mais difícil de concretizar porque o Porto joga de três em três dias, ficando ainda mais exposto a ausência de alternativas que façam com que o nível exibicional se mantenha e permita lutar por todos os títulos de uma forma real. Este erro comunicacional reduziu a margem de erro de Vítor Bruno e aumentou a pressão sobre o seu trabalho.

A consequência deste erro resultou na troca de treinador. Anselmi é o homem que se segue. André Villas-Boas aposta as suas fichas neste jovem treinador, pagando inclusivamente uma transferência para o poder contratar. A missão do treinador argentino é muito complicada. Tem de recuperar jogadores, reforçar a hierarquia do treinador no balneário, adaptar-se ao futebol português, trabalhar os mecanismos que pretende implementar e em simultâneo vencer.

Já todos percebemos que o discurso para fora continuará a ser o mesmo: o Porto vai lutar para vencer o título. Tendo em conta o contexto atual do Porto e as suas dificuldades financeiras, parece-me que o que é mesmo fundamental é que o clube azul e branco consiga chegar à Liga dos Campeões na próxima época.

Os mesmos vícios de sempre

O FC Porto é um grande exemplo para o Benfica. Anos e anos de vícios que permitiram que quem gerisse o clube fizesse o que bem queria e como pretendia. O resultado são milhões de euros de recursos que desapareceram e que beneficiaram um conjunto restrito de pessoas no universo azul e branco.

A falta de transparência que se vive dentro do Benfica não augura nada de positivo. A forma como se evita dar passos rumo à transparência não é um bom sinal. Adicionalmente a estrutura de custos dos encarnados sobe ano após ano. Se é verdade que o Benfica é o clube que mais fatura, como se justifica o facto de ter constantemente resultados negativos?

A trajetória que o Benfica tem vindo a seguir fora do relvado é claramente negativa. Para reforçar esta opinião, basta verificar que os custos aumentam de uma forma injustificada e analisar a tendência crescente ou galopante da dívida líquida nos últimos 5 anos. Tudo isto acaba por se resolver com a venda de jogadores. Tenho referido que já não basta vender um, já são precisas pelo menos duas grandes vendas para que o Benfica tenha resultados positivos e consiga manter algum equilíbrio.

Se fora do relvado as coisas não estão no caminho certo, dentro do relvado o histórico não tem sido melhor. Grandes investimentos sem retorno desportivo. Olhando para esta temporada, o Benfica tem tudo a ganhar. Depois da teimosia de manter Roger Schmidt, a chegada de Lage melhorou a equipa. Se o primeiro impacto foi positivo, é fundamental que a evolução da equipa tenha continuidade.

Num ano de eleições percebe-se que muita coisa está em jogo no universo encarnado. Se o título é fundamental para quem se quer perpetuar no poder, a presença na Liga dos Campeões é determinante para que o clube consiga continuar a respirar. Se falhar a Liga dos Campeões, o clube encarnado poderá ter de vender mais de dois jogadores para se equilibrar e ter liquidez para pagar os seus compromissos.

Os resultados desportivos positivos ajudam no curto prazo e camuflam muita coisa, mas em caso negativo também podem potenciar a insatisfação. Acho que ninguém tem dúvidas que o Benfica precisa de mudar de trajetória, tornar-se mais transparente e reduzir gorduras que consomem muitos recursos do clube. Uma auditoria forense séria e real seria uma grande ajuda para fazer um diagnóstico de irregularidades e procedimentos errados que possam existir, fazendo com que pudessem ser criados mecanismos e medidas de combate a más práticas, reforçando a fiscalização e controlo interno.

A valorizar: Paulo Pereira

Humildade, consciência, responsabilidade, muita qualidade e evolução. O andebol português vai fazendo história. Paulo Pereira é o rosto de um esforço que deve ser partilhado por muitos.