Pontapé de Estugarda O pontapé final… mas que não seja o último
É hora de regressar e contrariar o pessimismo acerca da Seleção Nacional
Foram quase três mil quilómetros de carro, umas centenas de comboio, dezenas de Uber. Entrevistámos dinamarqueses, eslovenos, alemães, suíços, escoceses, belgas, sérvios, turcos, ucranianos e alguns portugueses. Comemos Swabian Knopfle bávara, salsichas de Frankfurt, enchiladas do México, hambúrgueres de vaca argentina, saladas da Nova Zelândia, muita fruta alemã, pastas feitas por mãos italianas e sushi elaborado à nossa frente por japoneses. Cobrir uma competição destas pelo lado de fora, sem ligação direta ao dia a dia da Seleção Nacional, traz-nos uma diversidade que levamos para a vida, porque saímos destes eventos sempre mais ricos do ponto de vista social e cultural, nem que seja por ter mais umas histórias para contar aos amigos.
Estar à margem do que se passa na equipa das quinas também me permite ter um distanciamento que, admito, torna-se mais difícil quando todos os dias o repórter é confrontado com uma portugalidade que abraça o próximo como ninguém e nos faz sentir especiais. Ainda assim os meus camaradas que diariamente têm trazido ao consumidor A BOLA o que de mais relevante se passa à volta do plantel dirigido por Roberto Martínez mostraram como se pode ser objetivo mesmo escrevendo e falando com emoção, indo ao encontro de uma máxima fundamental nesta profissão: o jornalista nunca pode fazer claque, mesmo que dê um berro na tribuna de imprensa do Stade de France depois do golo do Éder (confesso o crime).
É sob esta lente que parto para Lisboa sem as expectativas que trazia acerca do desempenho da Seleção Nacional. O que assisti ao vivo no jogo frente à Eslovénia não foi muito diferente do que vimos no Mundial do Catar: uma narrativa à volta do descontrolo emocional de Cristiano Ronaldo, arrastando os colegas para uma zona muito perigosa e com a benevolência de Bruno Fernandes e Bernardo Silva, cujo génio lhes dá o estatuto e obrigação de se imporem no jogo, coisa que não fizeram, seja por culpa de Roberto Martínez ou por bloqueio psicológico.
Este é o último Pontapé de Estugarda, uma rubrica inspirada em Carlos Manuel. Que a epopeia de 1985 seja uma eterna inspiração: sexta-feira, já no sofá e junto dos meus filhos, tentarei vestir a capa de adepto e contrariar este pessimismo. Tschuss.