O novo FC Porto
Villas-Boas sabe melhor do que ninguém do que um treinador precisa. Foto: FC Porto

O novo FC Porto

OPINIÃO20.06.202411:00

Villas-Boas tem feito tudo bem. É preciso afastar-se do passado e começar de novo

André Villas-Boas ganhou por goleada as eleições mas não é por isso que os primeiros tempos na presidência do FC Porto têm sido mais facilitados. Os problemas sucedem-se a cada dia e ainda ninguém tem uma perceção exata da dimensão do buraco financeiro herdado.

Durante mais de quatro décadas nada foi questionado sobre o reinado de Pinto da Costa. A equipa sempre ganhou, muito, e isso foi mais do que suficiente tanto para os adeptos como para os sócios. Em abril, tudo mudou. Pinto da Costa caiu e agora assistimos a um novo FC Porto. Necessariamente diferente. Aliás, muito diferente.

Tenho a convicção que André Villas-Boas se preparou atempadamente para a tarefa e que também se rodeou bem, mas os problemas sucedem-se. Ainda agora ficámos a saber que o projeto para a Academia do clube na Maia, uma obra idealizada por Pinto da Costa, não vai sair do papel por uma razão simples: não há dinheiro. A anterior Administração também não o tinha e camuflou a questão com um cheque de meio milhão de euros careca! Foram anos e anos a esconder os problemas e a antecipar receitas, o que, claro, só aumentou as dificuldades de tesouraria. O típico quem vier atrás que fecha a porta... Só que Villas-Boas não a pode fechar, bem pelo contrário. O FC Porto tem de continuar a ganhar e também neste capítulo a herança é (muito) pesada.

Este o maior problema da nova Administração: equilibrar financeiramente o clube e continuar a ganhar. Para já, o novo presidente tem feito tudo bem. É preciso afastar-se do passado e começar de novo. Retirou poder aos Super Dragões, pôs fim ao ciclo de Sérgio Conceição e também comunicou a Pepe que não continuaria a jogar de azul e branco. Nesta lógica, também considero que Francisco Conceição tenha de deixar o Dragão. Nem que seja apenas pelos 30 milhões da cláusula válida até 15 de julho. Será o melhor para ambas as partes.

Depois, claro, há que esperar pelos resultados. E sem estes nada feito. Por mais louvável que seja o trabalho na retaguarda. Villas-Boas optou por não seguir a mesma lógica na questão do treinador e apostou na promoção de Vítor Bruno. Para quem não é conhecedor da realidade azul e branca, e poucos o são, já que só agora o treinador tem a carta de alforria, é uma aposta de risco. Compreendo-a pelas dificuldades financeiras, a que se junta, claro, a confiança no antigo adjunto, mas é preciso dar-lhe tempo, especialmente quando não há dinheiro. Villas-Boas sabe melhor do que ninguém do que um treinador precisa e, fundamentalmente, do que não precisa: um presidente que queira ser treinador. E isto tem de ficar claro desde o primeiro dia.