O monstro precisa de amigos

OPINIÃO19.07.201904:00

O povo precisa sempre de heróis e de atribuir os maiores louros duma enorme vitória a alguém. No domingo, Ângelo Girão, na final do Campeonato do Mundo de hóquei em patins, devolveu quase sozinho Portugal à glória maior, que lhe fugia há muitos anos. As mãos - e os pés, o peito e sempre a cabeça - do guarda-redes agarraram o mundo. Quando o espaço não é muito, os adjetivos são sempre poucos e Girão mereceu-os a todos. Os companheiros disseram para lhe fazer uma estátua, os adeptos anónimos cantaram o seu nome quase em uníssono.

Ângelo, no aeroporto de Lisboa, abeirou-se dos microfones para dizer que a vitória não era sua em exclusivo mas de toda a equipa. Um alinhamento dos astros fez com que esta vitória nacional acontecesse apenas três dias depois de uma das maiores bandas portuguesas dos 90 do século passado, os Ornatos Violeta, ter feito mais uma reaparição num festival de música. O concerto, diz quem viu, foi um sucesso, com Manel Cruz e seus pares a dar show na recordação do seu último álbum editado, O monstro precisa de amigos, de 1999.
Esta talvez seja a frase que melhor se aplica a Ângelo Girão ou a qualquer superstar, seja de que área for, especialmente quando se trata de desportos coletivos.

No Sporting, há um monstro na qualidade futebolística e na atitude perante o trabalho, de nome Bruno Fernandes. Os leões, por contingências financeiras, ou porque precisam do dinheiro ou porque não o vendem pelas verbas oferecidas, ou ficam com ele ou o deixam sair. Em suma, os leões ou ficam só com os amigos, ou ficam com o monstro e os amigos. Eventualmente, poderão ter de vender um amigo do monstro. Mas o nome do álbum é claro: o monstro precisa de amigos. E são os monstros que conseguem afastar os fantasmas, como aquele que cresce em Alvalade à medida que passam os anos sem ganhar o campeonato.