O 'mister' de A Bola do Portugal-Eslováquia: A Classe
Cristiano Ronaldo (IMAGO / Maciej Rogowski)
Foto: IMAGO

O 'mister' de A Bola do Portugal-Eslováquia: A Classe

OPINIÃO14.10.202317:57

Miguel Leal analisa o jogo que colocou a Seleção Nacional na fase final do Euro-2024

Primeira parte de nota artística perante um adversário que procurava pressionar alto nos minutos iniciais, mas a conceder muitos espaços nas costas da linha média, que era o espaço que a equipa das quinas procurava, com bastantes trocas posicionais entre os seus jogadores mais ofensivos, nomeadamente Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, Gonçalo Ramos e Bruno Fernandes, mantendo-se Rafael Leão mais posicional. Sempre que a bola entrava nesta zona os jogadores portugueses, quer em termos individuais, quer em tabelinhas, iam criando situações de golo consecutivas, que poderiam ter levado o resultado ao intervalo para 4 ou 5 a zero. 

Na primeira parte a equipa eslovaca tornou-se uma presa fácil para a qualidade de jogo evidenciada pelos jogadores portugueses. Mas passemos aos detalhes.

A Eslováquia iniciou o jogo com a ideia de fazer pressão, mas isso em nada perturbou a elaboração do Processo Ofensivo de Portugal, que foi subindo as suas linhas, e após alguns minutos o jogo passou-se a desenrolar mais no setor médio do campo. Nesta zona, os eslovacos tentavam, com uma estrutura de 4x5x1, contrariar o jogo de posse de Portugal. Por vezes a equipa das quinas utilizava uma linha de 3 na construção de situações ofensivas, com a inclusão de Palhinha entre os centrais, e com os laterais e os alas alternando o posicionamento, por dentro e por fora.

Aos 13´, após combinação pela direita, Portugal abriu o mote com remate perigoso seguido de uma cabeçada de Rafael Leão. Adivinhava-se o golo de Portugal e aos 18´, com nova arrancada pela direita em combinação entre Bruno Fernandes e Cancelo, da qual surge o cruzamento para a excelente finalização de Gonçalo Ramos

A senda continuava, e aos 25', após combinação pela direita, novamente, com um movimento interior de Cancelo , a entrar na área e a fazer uma finta bonita de se ver, para depois efetuar um passe fantástico que não deu golo porque na baliza da equipa adversária estava a estrela do jogo, Dubravka.

Aos 27´nova arrancada de Rafael Leão deu origem ao penálti soberbamente finalizado pelo Rei dos Goleadores. Entre os 36 e os 45’, quer através de técnica individual, quer através de desequilíbrios do adversário, provocados pelas combinações ofensivas, Portugal foi criando várias oportunidades flagrantes que poderiam ter dilatado e resolvido o jogo, não fosse a brilhante exibição do guarda-redes adversário.

Depois do dilúvio impunha-se mais o “fato-macaco”

Jogo completamente distinto que ficou tremido, não só pelas substituições tardias, mas essencialmente, pelas condições atmosféricas e o estado do terreno. 

Com o dilúvio que assolou o Estádio do Dragão, o jogo tornou-se mais musculado e menos técnico, o que dificultou as características do nosso jogo. A construção deixou de sair fluída, foram feitos alguns passes de risco, e o terreno de jogo, encharcado, permitiu mais recuperações de bola ao adversário, em zonas em que, na 1.ª parte, isso não tinha acontecido. A acrescentar a isto o jogo tornou-se mais partido, com as linhas portuguesas mais distantes e com menos ligação. Isto fez que com o jogo começasse a pender para os eslovacos, e não foi com surpresa que, após algumas ameaças, Hancko reduziu o resultado para 2-1, com um pouco de sorte, ao minuto 68.

O contexto impunha mais fato-macaco, e substituições que dessem mais consistência ao jogo de Portugal. A partir do momento que estas aconteceram, Portugal foi crescendo, e após a primeira jogada digna desse nome, mas de altíssima qualidade, um cruzamento de Bruno Fernandes permitiu ao Cristiano Ronaldo fazer o golo, que se pensou que daria estabilidade. 

Mas, aos 79´, Lobootka inventou um golo de excelente nível, assinado por um jogador que, até então, tinha estado completamente desaparecido. Aqui o mérito tem de ser dado também ao treinador das quinas, porque me pareceu intencional a colocação de Gonçalo Ramos na vigilância permanente deste jogador, na fase de construção do processo ofensivo do adversário. 

Com o equilíbrio estabelecido com as entradas de Rúben Neves e Otávio a equipa portuguesa foi-se acercando da baliza adversária, e em poucos minutos poderia ter dilatado o resultado claramente, não fosse novamente as excelentes intervenções do guarda-redes eslovaco.

Notas finais

Os lobos: homenagem bonita de se ver e homenagem merecida.

Qualidade e consistência de jogo evidenciada pela equipa portuguesa, não só neste jogo, mas em todos os jogos de apuramento, e o destaque tem de ser dado aos seus jogadores e ao treinador, que teve a perspicácia, a inteligência e a sensatez de explorar o potencial dos nossos jogadores.

CR7 por mais de 200 jogos pela seleção, só mesmo um jogador diferenciado consegue tal feito.