O melhor oficial do seu ofício

OPINIÃO01.11.201903:00

Nigel Owen

Este jornal tem, muito apropriadamente, dado destaque ao fantástico campeonato do mundo de râguebi (recomendo em particular a última crónica de André Pipa). Mas há um aspecto singular que me parece ter de merecer mais atenção. Refiro-me à evidência do mais absoluto contraste de mentalidades que é patente entre os organismos corporativos que regulam a modalidade e aqueles outros que mandam no futebol. Um exemplo: as imagens das jogadas mais polémicas são exibidas e repetidas em directo nos ecrãs de próprio estádio e - oh! sacrilégio! - são também escutadas ao vivo as questões submetidas pelo árbitro de campo aos videoárbitros, bem como as respectivas respostas. Outra diferença importante: quando um jogador vai ser advertido ou punido, o árbitro explica-lhe bem explicadinho o porquê. Ver actuar o galês Nigel Owen, provavelmente o melhor oficial do seu ofício em todo o mundo, deveria ser um caudal de inspiração para os nossos árbitros de futebol. Mas algo me faz suspeitar, nem sei bem porquê, que isso não seria nada bem aceite…

Bom de coração

«Para que quero dez Ferraris, vinte relógios com diamantes e dois aviões? O que faria isso pelo mundo? Eu passei fome, trabalhei no campo, joguei descalço e não fui à escola. Hoje posso ajudar as pessoas. Prefiro construir escolas e dar comida ou roupa às pessoas pobres», afirmou Sadio Mané. E acrescentou ainda: «Não preciso de exibir carros de luxo, casas luxuosas, viagens e até aviões. Prefiro que a minha gente receba um bocadinho do que a vida me deu. Construímos escolas, um estádio, damos roupas, sapatos, comida às pessoas que vivem em pobreza extrema. Dou 70 euros por mês a todas as pessoas de uma região extremamente pobre do Senegal, o que ajuda na economia familiar», explicou a estrela do Liverpool, prestando assim mais uma prova de que nada há de bem fundado nos julgamentos, perdão, nas condenações, que resultam de preconceitos. Porque a verdade, verdadinha, é que não, não somos nada todos iguais. Felizmente. Como o demonstra suficientemente este exemplo daquele que já é um dos maiores futebolistas do orbe, parte integrante do fenomenal tridente atacante de Liverpool. O qual, apesar de (agora) ser rico, não esquece que também ele viveria em tais condições miseráveis, não fossem os caprichos de uma bola. Mas a circunstância de manter vivas as suas raízes é anúncio de homem com ramos viçosos para o futuro.

(Em tempo: o técnico do Vitória Sport Club deveria mudar-se para o Dragão. Para a semana explicarei porquê.)