O medo de falhar
1 - De todos os Mundiais que vi, o pior foi o de 1990, quando começaram as ditaduras defensivas (a primeira vez que vi equipas com cinco defesas) e média de golos mais baixa de sempre em Campeonatos do Mundo. A final, que consagrou a Alemanha, só podia ter terminado como terminou: 1-0, golo de penálti, de um defesa (Brehme). Tudo muito chato - e quando tínhamos como comparativo o México-1986 de Maradona.
Infelizmente, o Rússia-2018 não está a ser muito melhor. À exceção de três jogos (Portugal-Espanha, França-Argentina e Bélgica-Japão), está a ser, globalmente, um Mundial que nos faz perder tempo. A culpa, parece-me, é o medo de falhar. Dos treinadores, principalmente. O Croácia-Dinamarca é um exemplo: estando a perder ao primeiro minuto, após um lançamento lateral, os balcânicos foram de cabeça e coração atrás do empate. Mal o conseguiram, deixaram o coração de lado. Quatro minutos de espetáculo e 116 de aborrecimento.
Nos jogadores também se apoderou o medo de falhar. Exemplo: a quantidade excessiva de penáltis executados para o meio da baliza. O receio de decidir mal (o lado para onde chutar) está a dar lugar a um tiro de sorte. Como disse Harry Truman, pior que uma má decisão só uma não decisão.
2 - Pouco mais de um mês separou o nascimento de LeBron James com o de Cristiano Ronaldo. Os dois maiores ícones do basquetebol e do futebol vão mudar de clube e assinar contratos milionários de valores semelhantes. Ninguém acredita que Lakers e Juventus vão perder, desportiva e financeiramente, com dois praticantes de 33 anos, no próximo quadriénio. A evolução da medicina ajuda a explicar a longevidade dos atletas, mas é a combinação (talvez única na história) de genética, talento e força mental (não têm medo de falhar) de ambos que faz de nós uns privilegiados: sermos contemporâneos de dois dos maiores desportistas de sempre. E (pelo menos) por mais quatro anos.