O João Félix para lá do número
Aos 25 anos, o internacional português já teve escrutínio suficiente para muitas horas de terapia; ´Para lá da linha' é uma opinião semanal
O contexto não era de entrevista pura e dura, e por isso, se calhar João Félix soltou-se mais. E ouviu conselhos que nunca pensou ouvir. No podcast Geração 90, da SIC Notícias, o jogador do Chelsea falou com a anfitriã, a atriz Júlia Palha, sobre as origens da carreira, a vida pessoal, o orgulho pela educação que recebeu dos pais e não pôde escapar ao tal número mágico: 126 milhões, o valor que o Atlético Madrid pagou para o contratar após 6 meses na equipa principal do Benfica, em 2019.
«Nunca me passa pela cabeça, só se me falarem disso», diz. A cabeça de resto, é bastante analisada, quando a anfitriã quer saber se, no meio de tanta pressão na carreira, João já teve ajuda profissional. Se não recorde-se: mudança para Madrid aos 19 anos; um treinador difícil em Diego Simeone, sucessivos empréstimos a Chelsea e Barcelona – ou seja, nova vida e novas cidades, e finalmente a liberdade de sair em definitivo para o Chelsea. Mas os 126 milhões sempre lá. E ainda apenas 25 anos. «Não estou na cama, antes de adormecer, a pensar que custei 126 milhões», reforça.
«Fazes terapia?», pergunta Júlia diretamente, quando ele cita jogadores que já revelaram ter tido que pedir ajuda, «eu comecei este ano e foi transformador». «A sério?», interessa-se, «nunca fiz, não sou contra. Já ninguém pensa que quem vai ao psicólogo é maluco. Nunca me puxou para ir. Não sou de me abrir muito, guardo o que penso. O meu pai é assim. Prefiro que me continuem a ver da mesma maneira», revela.
Júlia Palha identifica uma aberta e aproveita: «Muda-te a vida, a forma de comunicar, melhora as relações. Pensa no assunto. Não tens de ter um problema. Alguém com a tua dimensão... Durante uma hora podes falar dos teus problemas, dizer mal de quem e do queres… é tão saudável», recomenda.
E João terá certamente muito para desabafar embora algumas coisas já pareçam resolvidas e Madrid continue a ser uma duas suas cidades preferidas. Relações pessoais, o constante escrutínio em clube e também na Seleção, Simeone. Aquilo que João não terá percebido é que toda esta conversa foi terapia. E assim, mesmo sem querer, já foi.